terça-feira, 10 de setembro de 2013

O CARDÁPIO
Meu irmão Lauro (Laurinho pra todos nós) partiu aos 60 anos. Era meu irmão de idade mais próxima, menos de 5 anos de diferença, mas o suficiente para que tomasse ares de deus protetor daquela curiosa e insaciável irmã menor. Na praia, brincávamos com seus carrinhos, ganhos no natal, em vias expressas construídas debaixo da casa, que se erguia sobre pedras altas para que não apodrecesse com a umidade. Foi ele que protegeu minha virgindade nas festas de Cachoeira, sempre de olho nas danças e namoros, até que apaixonou-se e deixou-me em paz para seguir meu rumo.
Quando garoto foi ser escoteiro. Eu achava aquilo o máximo. Acampar, dormir em barracas, construir mesas e bancos com toras e cipós, como pioneiros, era um sonho inimaginável. Eu babava com as histórias e pra que eu parasse de encher seu saco, resolveu reproduzir o mundo escotista no quintal de nossa casa. Cortou galhos, amarrou-os em tripés com cordas, pregou tábuas em cima e estavam improvisados os bancos. Eu ajudei em cada etapa, como se estivesse construindo a casa dos meus sonhos. Depois construiu o fogão, enjambrado em pedras, arames e latas, que serviriam de panela. O problema é que só sabia fazer arroz, então catamos na cozinha alguns tomates e estava feito o nosso almoço. Fiel a nós dois estava meu gatinho da época, Veludo eu acho, assistindo a preparação. Claro que o arroz empapou! Mas Laurinho, Veludo e eu comemos o melhor arroz com tomate de nossas vidas... À noite, diante de panos amarrados em árvores, para que dormíssemos embaixo, refuguei o acampamento e voltamos todos, inclusive o Veludo, pra nossas caminhas macias. Muitas vezes repetimos o cardápio e o Laurinho jamais aprendeu a fazer arroz, mas alimentou-me o gosto pela terra e pelas coisas simples. E quando sento no jardim, em bancos que construí com minhas próprias mãos, sinto o gosto mágico de arroz com tomate.

Nenhum comentário:

Postar um comentário