quarta-feira, 31 de julho de 2013


Tens dias em que as idéias
resvalam frouxas
sem vida
como se fossem fantasmas de ar
atravessando paredes

Mas tem dias
e esses são os imprescindíveis
em que as idéias se instalam
como paredes protetoras
e salvam a alma
dos terríveis tumultos do ar

terça-feira, 30 de julho de 2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013


Quando eu nasci
em algum dia antes de ontem
foi-me confiada a capacidade de falar

E então eu falo sem trégua
mesmo que a tal da amargura
por vezes que nem me lembro
pinte de branco as palavras 
que brotam na branca página

domingo, 28 de julho de 2013


Hoje estou realizada! Nosso baú de pérolas, que se abre aos domingos, como se fosse a ostra-mãe, traz hoje quatro textos. Apresentando Gilnei Lima e a força de seu lirismo. Gilnei, que tem seu próprio site, mas que generosamente vem enriquecer nossos caminhos. Acompanha a nossa Val, que já é presença fiel, com sua poesia que se escuta em ondas. E os nossos guris de todo domingo, o Eduardo com um poema atual sobre o Papa Francisco e o Motta - ah, o Motta - com a sua capacidade de nos fazer rir, como se fôssemos meninos de colégio. Com vocês, nosso Roubando Pérolas, mais ladrão do que nunca...

De Gilnei Lima


CAVALEIRO ERRANTE
Abriste a armadura, senti tua forma.
Retiraste o elmo e vi teu olhar, teu semblante.
No teu olhar, havia a ternura oculta.
O doce olhar de quem sabe que todas as amarguras se esfacelam,
quando se vê verdade diante dos olhos,
pois o tempo, senhor de todas as eras, regulador de nossa trajetória,
já te permitiu sonhar e sofrer.
Sorrir e chorar por vezes demais.
Mas as lágrimas são cicatrizes impressas nas almas,
para que elas possam reconhecer que diante de si
pode estar uma verdade simples,
porém perene nesta correnteza imparável que entendemos por vida.
Se ergueres novamente teu Excalibur contra aquele que se aproxima,
se mantiveres o escudo em guarda,
poderá deixar de perceber que se postou diante de ti um guerreiro ferido,
cujas feridas profundas, por vezes sangram.
Mas o guerreiro tem a força e a experiência de ter lutado muitas guerras e vencido todas elas,
mesmo aquelas em que não hasteou bandeiras.
Não quer mais batalhas e guerras em sua jornada.
Quer os campos de paz.
Aconchego da brisa sobre os campos de trigo,
sentir o gosto cálido da água do riacho que corre ao largo da estrada
que me conduziu à sua majestosa presença.
Diante de ti me rendi de joelhos em terra,
para que pousasse tua espada em meus ombros
e me tornasse teu Cavaleiro,
sem títulos,
despojado de honrarias de nobreza.
Simplesmente teu Cavaleiro.
Abriste a armadura, senti tua forma.
Retiraste teu elmo e vi teu olhar.
Senti o gosto de beber em teu cálice.
O vinho maduro, de sabor que desconhecia,
preparado das melhores de todas as castas.
Habitei em teu castelo e retirei-me para o posto de vigília.
Guardarei minha espada,
com a certeza de que ali, diante de mim,
ainda vejo o caminho que me leva de volta ao teu encontro.
Pois, mesmo que no trotar de meu cavalo,
eu, um imponente e destemido guerreiro,
sentir que se esgotam os meus dias,
é em tua direção que sempre terminará a estrada


De Val Saab


e agora, meu corpo é teu
meus beijos, nossos beijos
divido meu ser nesta intensa
loucura chamada vida.
meu coração junto do seu
buscando o momento
perfeito de se entregar
e palavras não mais tolas
são faladas no ouvido.

volta para eu poder te escutar.


De Eduardo Magrão Menezes

FRANCISCO

Santo homem santo
Santo Padre
Padre de todos os filhos
Filhos da fé...
No Santo Pai do Céu!

Francisco Papa de branco,
Símbolo da paz,
Que traz consigo
No sorriso franco!

Alegria contagiante,
Amor que se espraia,
Simplicidade franciscana,
De fato!
Em cada ato!

Sua mansidão
Revela o pastor
Humilde semeador,
Do coração cristão!

Conquistou os brasileiros,
De todas as religiões,
E, sem deixar de Francisco,
Tornar-se-á Cristo na terra,
Para todas as nações!


De Paulo Motta

Acho que o nome do bebê real será Wandergleyson. Mas aguardemos, depois de saber o nome do crianço - se a Dilma pode fazer neologismos, eu também, ué - toda criaturinha do sexo masculino que nascer aqui terá o nome do príncipe recém-nascido burguês imperialista capitalista imundo. Queria visitar um amigo que está hospitalizado, contraiu núpcias e está passando mal, o ferro de passar roupa estragou e fica tudo meio amarrotado. Há um surto de núpcias na região, embora as autoridades afirmem que não há nada fora do eixo, os cartórios estão lotados e os templos e igrejas não tem mais espaço para abrigar tantos nubentes, portadores do vírus de núpcias. Um primo meu já contraiu núpcias quatro vezes e conseguiu se safar com vida em todas as quatro. Não lhe faltam conselhos dos amigos: não dê conversa a desconhecidas que elas se aproximam demais, se as transmissoras do vírus - quase sempre mulheres - entrarem em sua casa, na hora de ir embora não deixe que esqueçam escovas de dentes, brincos e, principalmente, calcinhas. Se for contaminado, escutar música romântica e pensar na malvada transmissora demoníaca linda maravilhosa, é um dos primeiros sintomas. Havia uma clínica especializada em tratamentos de quem já estava quase perdido, quase no altar, mas essa clínica fechou por problemas ainda desconhecidos, que era a Clínica Tia Carmen. Ali o paciente internado por três dias saía da lá curado, uma beleza! Com esse frio bárbaro os riscos de contrair núpcias aumentam muito. Tu leva pra dentro de casa o perigoso transmissor que lhe aquecerá nesse inverno, mas no verão, quando já estiver se apoderado do teu corpinho, ela te ligará durante o futebol do sábado: "E não esquece de trazer pão e margarina, minha mãe vem jantar aqui hoje e amanhã tem o batizado do meu sobrinho, espero que tu acorde cedo, senão não tem futebol semana que vem!". Bom almoço, queridos amigos!

sexta-feira, 26 de julho de 2013


Dias de inverno são dias mágicos de comidinhas demoradas, lareira acesa, roupas velhas e macias empilhadas, bicharada do colo, tablet ou livro à beira do fogo, vinho ou ceva (que sempre prefiro), pipoca, fondue de queijo sentada no chão, música ou DVD de mãos dadas, noites com lençol térmico, dormir de conchinha... Tudo tudo maravilhoso, mas como sinto saudades do verão!... O verão, pra mim, tem a alegria das coisas leves e do riso fácil. Uma certa inconseqüência no viver, uma vontade de estar acordada desde cedo, aproveitar o dia e o calor, como se fossem férias permanentes. E não falo isso porque moro na praia (o mar tem uma cor linda no inverno) e estou aposentada. Já sentia assim quando saía da Zero Hora à tardinha e ainda dava tempo de caminhar ao sol, ir ao cinema e sair ainda de dia, fazer happy hour vendo o sol se pôr no Guaíba, improvisar um churrasco rodeada de risadas. E agora, então, que não sofro mais com os 40 graus que, às vezes, nos amassa no asfalto, o verão ficou perfeito. Sei que muita gente prefere o inverno, com seu aconchego, mas eu sempre fui uma adoradora do sol, desde sempre, e continuo fiel (considerando os cuidados com filtros e horários) mesmo agora, quando ele se transformou num vilão maquiavélico, pior que a Carminha e o Félix juntos...

quinta-feira, 25 de julho de 2013


Eu volto
mas eu vou

E trago comigo
essa parcela de poesia
que brota de teus suspiros profundos
e calam em mim com a mesma profundidade
para onde eu vá

Eu volto
mas eu vou

E te devolvo em poemas
cada sorriso
cada ternura no olhar
cada segredo compartilhado
como se fossem presentes 
presentes de aniversário

Porque a cada vez
que volto e vou
enriqueço as prateleiras do peito
com novas sensações de alegria
que eu não conhecia
e essas sim permanecem contigo
mesmo que eu volte e vá

quarta-feira, 24 de julho de 2013

terça-feira, 23 de julho de 2013


Sinto falta de um poema denso
que me comova tanto
a ponto de me lançar de volta
àquele mais profundo íntimo
onde acontecem os bailes sem máscara
com fantasmas dançarinos 
em roupa de festa

Um poema denso
que me confraternize com todas as que fui
e seja um reencontro alucinante
Que me faça entender
por que escrevo
e por que fui dotada de tantas faces

Nesse dia então
quem sabe eu possa lhes dizer enfim
alguma verdade sobre a vida

segunda-feira, 22 de julho de 2013


Como são corajosas as vidas de cristal
que choram e avançam 
aos trancos e tropeços

E como são covardes
os gigantes que se armam de escudos e flechas
e amassam sem lástima
com suas botas enlameadas
os cacos de alma que brotam do chão

domingo, 21 de julho de 2013


Hoje, nossos guris falam sobre a emoção, que nos move e nos alimenta, nesse mundo às vezes um tanto complicado. Eduardo e a emoção do poeta. Motta e as visitas, nas horas brumosas, aos armários da alma, onde se esconde a nossa história emocional...

De Eduardo Magrão Menezes

CORAÇÃO POETA
Nada tem de secreta
A paixão do poeta
Seus olhos condenam
É janela indiscreta
Que mostra na alma
O amor que desperta.

Quem conhece o poeta
Logo vê sua paixão
Não segura os sentimentos
Lhe trai a emoção.
Escreve o que tem na alma,
Sua caneta... O coração!


De Paulo Motta

Sorry, parceiros, estou meio lento, acho que os remédios pra dor na minha linda artrose me deixaram fora da órbita habitual. Aquelas coisas de doente, sabem? Aí começo a perambular pela imensa casa da minha alma, abrindo portas e gavetas dos meus armários emocionais e viajar no passado. Abro uma porta pesada e empoeirada e entro na sala com janelas semicerradas, meio penumbra, e reencontro a caixa de pés-na-bunda que tinha remexido esses dias. Tem pés-na-bunda de tênis, de salto dez, de rasteirinhas e lembro das donas de todos eles! Algumas me deixaram de porre por algumas semanas, outras nem tanto. Num canto, pacotes rasgados de carinho e afetos que nem cheguei a usar, jazem quase intactos no esquecimento. Tento segurar um conselho novinho, na prateleira do armário escuro, mas ele se desmancha na minha mão. As angústias estão organizadas em escaninhos metafóricos, perto da porta, todas desgastadas pelo uso e pelo tempo. Acho que usei demais. Melhor sair daqui. À esquerda, no final do corredor, uma porta azul descascada chama a minha atenção e entro num quarto iluminado, no meio uma enorme cama coberta com amores antigos em forma de retalhos, costurados numa colcha colorida. Ficou bonita a colcha e me lembro de todos, retalho por retalho. Pequenas decepções ornamentam as paredes, Todas cinzentas, tristes, que eu mesmo esbocei antes de colocar nas molduras, nem sei pra quê guardei isso! Vou sair daqui, não gosto muito dessas visitas ocasionais embora, quase sempre, encontre algumas respostas para as milhares de perguntas que azucrinam meu cerebrozinho. Ah, ali é a saída! Que coisa, a saída sempre muda de lugar. Só falta eu me perder dentro de mim mesmo, rarara!
Boa Noite, amiguinhos, domingo promete ser ótimo!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

CAMILLE CLAUDEL 

Leio hoje, com enorme expectativa, que vai ser lançado em agosto o filme Camille Claudel-1915, direção do francês Bruno Dumont, protagonizado pela maravilhosa Juliette Binoche. Nada a ver com Camille Claudel, de 1988, inesquecível papel de Isabelle Adjani, filme que trilhou a vida dessa que foi a maior escultora de sua época e seu conturbado relacionamento com Auguste Rodin, até sua internação, em 1913, onde ficou reclusa por 30 anos, até sua morte em 1943.
Esse novo filme tem dois momentos: um lida com o sofrimento da inadaptação de Camille ao sanatório, em 1915, à espera de notícias do irmão ausente, Paul Claudel, para quem escrevia cartas comoventes em seus momentos de lucidez. E após, quando se dá conta de que nunca mais vai sair de sua reclusão, a busca da quase inacessível paz interior.
Faz 70 anos de sua morte e exatos cem anos que Camille Claudel foi internada à força, tirada de seus gatos e de suas miniaturas que, à medida que a doença avançava, iam sendo destruídas no instante que eram concluídas. Sua última obra exposta data de 1906. As duas obras que posto são A Onda, de 1897, bronze e ônix (62x56x50cm) e O Gato, de 1893, bronze (5,5x13,5x9cm)
A loucura, com suas garras oportunistas, muitas vezes assombra os artistas e sua enorme sensibilidade. Até início do século XX, com a falta de tratamento específico, muitas vidas e muita arte se perdeu, pela ausência de tratamento específico, pelo preconceito, pela reclusão e pelo abandono que, invariavelmente, os artistas "loucos"sofriam. Camille foi afastada de sua arte. A Van Gogh foi dada a oportunidade de continuar pintando, mesmo internado. E Edvard Munch negou-se ao tratamento, por temer o fim de sua sensibilidade. Mas a nenhum foi dada a oportunidade que hoje temos e que iniciou com Freud, de terapias e novos medicamentos, que atenuam e até põem fim aos sofrimentos psíquicos. E a sensibilidade, enfim, deixou de ser um carrasco!...




quinta-feira, 18 de julho de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013


Esse olhar encantado
que me espia de trás das roseiras
é a mais eficaz terapia
contra as aflições do tédio

Porque essa é uma doença contagiosa
que se insinua lentamente
quase sem sintomas
corroendo com seu vírus daninho
as estruturas da cumplicidade

segunda-feira, 15 de julho de 2013


Se as flores de plástico não morrem
elas também não vivem

E se não nos presenteiam 
com as perdas e com os danos
também deixam de invadir as emoções
como um afago
com seu inesquecível cheiro de pétala

domingo, 14 de julho de 2013


De novo roubo o amor, na poesia de meus amigos...Val, com a profundidade de seu texto; Motta e o comovente encontro com o filho distante, através das lembranças da infância e Eduardo, que nos brinda, como sempre de forma lírica, com um texto que fala da chuva, como se ela pingasse amor...

De Val Saab

quando 
encontrar
teu olhar
no
meu
corpo,
você
congelará
este amor
até alcançar.
até
arrancar
meu coração
para
si.

De Paulo Motta

Lembrava que meu filho, o Lobinho, como toda a criança, perguntava sobre tudo. Em alguns momentos eu viajava um pouco. Um dia passeávamos numa pracinha onde havia muitas árvores, e ele perguntou qual o nome dessas árvores, lhe respondi que eram seringueiras. E o que fruta elas dão? Ah, meu filho, elas dão seringas, que são colhidas e, depois, vão pros hospitais, pra serem usadas. Ele ficou me olhando com seus olhinhos surpresos e redondos, encantado. Mas agora não é época de ela dar seringas, só no outono. Outra vez ele e um coleguinha que passava o fim de semana lá em casa, queriam saber o que era um velório. Morando ali na Azenha, pegamos o carro e demos um pulinho no São Miguel e Almas, onde peregrinamos em algumas capelas, vimos cadáveres sendo velados, cumprimentamos parentes dos entes queridos e depois fomos pra casa, com a curiosidade deles saciada. Tenho saudades daqueles tempos em que éramos os orientadores de nossos pirralhos. Saudade de chegar em casa moído e ele pulava no meu colo pra escutar a Dança Macabra, Saint-Saëns, e dançá-la comigo. Saudade daquele pequenino que me chamava pra acompanhar a montagem de uma nova geringonça de Lego. Numa noite criei uma personagem terrível pra protagonizar a historinha antes de dormir. Era a Vovó Ampirinha, uma velhinha sanguinária que atacava netinhos indefesos. Outro foi o Vovô Mitá, um boneco do Lego, que ele achava que ele precisava de um nome. Pouco antes de ele partir pra Academia, me chamou e colocou uma fita cassete num gravador pra eu escutar. Saiu a vozinha fina dele: "Olá, Lobinho do futuro, eu sou o Lobinho do passado, hoje é dia 22 de agosto de mil nvecentos e noventa e seis e eu estou desenhando uma história da Vovó Ampirinha...", me emocionei, tive que disfarçar aquela emoção ao descobrir, assim, de repente, que meu pequeno virara homem. E voou atrás de seu destino, nos deixou pra trás, acenando, enquanto começava a construir a sua vida levando com ele nossos princípio e nosso amor. Nos resta rezar e torcer por suas escolhas. Aguardemos os netos que, se Deus quiser, virão. Pois que venham logo, estaremos preparados e ansiosos. Volto depois, meus amiguinhos e amiguinhas

De Eduardo Magrão Menezes

Doce algodão
Vagando ao léo
Trazes contigo
Gotas de céu

Choras tranqüila
Pingando vida
Rezas as flores
Do meu amor

Eu jardineiro
Da tua alma
Rezo com calma,
Mas com ardor

Pra agradecer
À linda nuvem
Que gotejou
A rosa vermelha
Que ontem plantei
Pra colher beijos
Da mais linda flor...

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Não me deixem jamais esquecer
do dia em que morei
no lado de dentro do nó

Tão devastadora falta de ar
criou-me novos braços
onde os originais haviam murchado
Tão devastadora falta de ar
acordou uma consciência estranhamente clara
de que do lado de fora
as alfazemas alilasavam desafios
tão fáceis tão fáceis tão fáceis

Então desamarrei as cordas
com os braços novos que se formaram
e usei-as como um balanço sobre o espaço liberto

E eis-me aqui
de forças abertas ao sol
com as cicatrizes tatuadas
no mais delicado cálice da manhã

quinta-feira, 11 de julho de 2013


A TINA
Tenho uma gata velha, com seus mais de 18 anos. Pois a Tina é tão velha que se perde na casa e esquece que comeu. Penso que está com Alzheimer - não sabia que os bichos tb tinham - , além de quase desdentada e surda como uma porta. Mas ela está bem, pois tem uma visão excelente e uma saúde de ferro. Quando ela se perde, precisa me ver, que sou seu ponto de referência. Às vezes estou longe, no pátio, cheia de plantas e enxadas na mão e tenho de largar tudo e ir até onde ela possa me enxergar. Então de berros alucinantes tipo miaaaaaaaaaaaaaaau, começa a dizer assim, miau miau miau, como quem diz, ah ta, estas aí... Pede comida sempre sempre e tem de ser um pouco de cada vez pra poder dar toda a hora e deixa-la mais faceirinha.
Pois a Tina tem me acompanhado em quase um terço de minha vida. Chegou numa época de mão na frente outra sem saber onde colocar, relacionamento acabado, depre total. Ela chegou altiva, sentou no meu colo, e não deixava mais ninguém se aproximar. Tipo, a mãe é minha e ninguém tasca. Isso eu nunca vou esquecer. Era alguém que me olhava com adoração em meio ao caos. E fomos envelhecendo juntas, com aquele fio mágico que sempre nos ligou. 
Nesse momento ela está no meu colo enquanto escrevo, com o tablet esmagando sua cabeça e ainda resmunga pra ele, como antes resmungava para as pranchetas de diagramação ou para os rabiscos de poemas em pedaços de papel...


terça-feira, 9 de julho de 2013

Eu te pedi
meu amor
uma noite de paz

Eu te pedi a alma de volta
que voa contigo em volta do sol

Eu te pedi o amor
meu amor 
Eu te pedi

Onde estás nessa imensidão
que não me escutas mais
Onde estás

Eu te pedi o sol
meu amor
E o amor era o sol

Trazes a noite tão linda
e eu te pedi a paz
Eu te pedi

Onde estás
meu amor
que não me escutas mais

domingo, 7 de julho de 2013


Meus garotos hoje se superaram. Eduardo homenageando a poesia e nosso blog, de uma forma emocionante. E Paulo Motta, de forma não menos tocante, falando sobre o amor. Deliciem-se...



De Eduardo Magrão Menezes

PRA VOCÊ!
Ler poesia
Não é perder tempo,
É ganhar alma,
Voar!

E galopar
No alazão alado,
Sonhar dourado,
Decifrar o amor!

Sensibilidade,
Emoção!
Coragem de ser covarde,
Pra fugir da razão.

E ler coração,
Amar a criação,
Colher, feliz,
A flor chamada poesia,
Que plantei pra ti!

Sou... Simples assim...
Sou pérola roubada!
Sou lirismo em poesia,
Clara alma apaixonada!


De Paulo Motta

Quando trabalhava em Caxias, todas as sextas feiras, vinha de ônibus pra Porto Alegre e de tanto frequentar a rodoviária, já conhecia seus personagens das sextas naquele horário. Sentado, esperando o embarque, observava a menina com o namorado que estudavam na UCS e iam pra São Sebastião do Caí. A professora que, cheia de pastas, pegava o mesmo carro que eu, e os funcionários, serventes, pessoal da limpeza e tal. Mas uma figura, particularmente, chamava mais a minha atenção: era um baixinho, carregador de malas, num jaleco azul escuro que era a cara do Ron Jeremy, um ator pornô das antigas. Cabelo grande e bigode, um tipo que passa despercebido em qualquer lugar. Numa daquelas noites aconteceu uma coisa diferente. Percebi que uma mulher pequena, puxando duas crianças, atravessava a pista dos ônibus e se dirigia à plataforma de passageiros onde os esperava o Ron Jeremy. Eles se abraçaram tão alegremente e as crianças - um casal com pouca diferença de idade - se agarravam ao pai numa festa que valia a pena assistir. Em seguida se dirigiram a uma lanchonete, todos agarrados, e sentaram pra comer alguma coisa. Sozinho, ali parado, pensei: será isso a felicidade? Comecei a imaginar a casinha deles, o aconchego do jantar simples e o movimento da esposa arrumando as roupas dos filhos pra escola, no outro dia. Não precisava ninguém dizer que havia muito afeto naquela família de pequenos. Não havia carros anabolizados ou celulares pirotécnicos, apenas muito carinho e uma cumplicidade entre os quatro, de fazer inveja a qualquer mortal com um pouco de sensibilidade. Certamente nenhum deles fez curso com o Shiniashiky ou aprenderam a fórmula do amor em cursos-relâmpago. Sinceramente, quando alguém me perguntou e certamente, no futuro, perguntará: tu me ama? Não sei. Pode ser. Pode ser que te ame até o dia em que o meu futebol do sábado, que me acompanhavas, passe a ser um motivo de discussão. Que eu precise pedir um abraço quando chegar em casa de saco cheio do mundo. Pode ser que, o que chamávamos de amor, não resista ao desemprego. Pode ser, ainda, que amor seja apenas tolerância até um determinado limite, onde cada um tem o seu próprio limite.Pra mim, o amor foi pro beleléu quando o abraço, o beijo e aquela frase tão boa de ouvir "senta aqui, me conta o que tu fez hoje!", viram protocolo, uma coisa plástica. Sem contar o brilho dos olhos que não brilham mais. Pois é, senhores ouvintes, o bicho humano é complicadinho! Boa noite que amanhã tem missa!

sábado, 6 de julho de 2013


Pois se engana quem pensa que escrevo direto no tablet. 
No celular às vezes, quando estou na rua e a idéia surge intrometida. A mais criativa metáfora nasce de velhas canetas arranhando pedaços de papel. É como se as palavras criassem vida e voassem descontroladas num universo próprio.
Adoro ser esse mero instrumento - como se estivesse psicografando as vozes de mil diabinhos travessos...

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Jamais conseguirei
traduzir o que sinto por ti

O amor e a paixão estão imersos
na delicadeza
e o tempo é de silêncio 
silêncio e paz

terça-feira, 2 de julho de 2013

Detesto quando me chamam de "tia" na rua. Tenho sobrinhos maravilhosos, alguns mto próximos, outros mais distantes, física ou emocionalmente, mas todos pessoas do bem, onde sensibilidade ou garra se alternam, justificando seu tempo no mundo.
Pois pedalando minha flamante "trike" pelas ruelas - hoje lotadas - de Pinhal, me "sentindo", espalhando sorrisos por aí, quando ouço um apressadinho atrás de mim berrando: "acelera, tia!" Olho pra trás com meu mais perfeito olhar "33,5" e despida totalmente de minha boa vontade, grito o clássico - meio baixinho pra ele não ouvir, pois o marmanjo era grande - "não tenho sobrinho dessa idade, meu!!!
Pedalo com toda a força de que sou capaz e saio rua afora cantando pneus, com o que sobrou de minha dignidade. Dissonância pura! Senso de harmonia totalmente dissolvido...
Tivesse o marmanjo sobrinhos como os meus, que transformam minhas noites num céu estrelado, seria dotado de muito mais paciência e não trataria ciclistas e pedestres como viajantes inferiores...


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Quando simplifiquei minha vida, minha poesia também simplificou. Por isso em vez de eruditos solilóquios, fímbrias e júbilos, prefiro agora encontrar aquilo que já está, mas que eu ainda não havia notado:

Falava silenciosamente comigo mesma
até que um gatinho preto
emaranhado nas franjas do tapete
atravessou meus pensamentos

Naquele momento de pura magia
muito mais profunda que a mais profunda ideia
era a iluminada alegria 
que emanava de seus movimentos