sábado, 30 de novembro de 2013

Já levantei a taça de cicuta
Lembram vocês que me viram então?
Já levantei a taça de cicuta
e a provei até
E com ela equilibrada nas mãos
reservada para um momento de desesperada sede
cruzei o mapa mundi com os pés em carne-viva
atrás de uma conciliação
entre o ser e o estar

Não sei onde a perdi
Não sei onde a deixei encostada 
em alguma pedra do caminho

Sei que alguém pode encontrar a taça
e sei que vai bebê-la
E eu deveria estar aqui
para avisar que além dos venenos
existe outro tipo de consolo

Mas não posso
porque não sei quando descobri
que a dor é simples pulso
e o passo 
um passo apenas 
é o suficiente

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Tempo demasiado
descansando nas sombras...

Agora quero brincar
com esse anjo travesso
que mora na ruas
longe das noites internas

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

domingo, 24 de novembro de 2013


E foi num dia de chuva que o Paulo Motta voltou a pedir emprestado o livro Camilo Mortágua... E foi ouvindo um fado que Val Saab escreveu um de seus mais belos poemas...
Roubando Pérolas, num dia de passeio interior!

De Val Saab

quando estive em Portugal, tive a oportunidade de escutar muito fado. Principalmente no último dia, com um foninho sem-vergonha daqueles ônibus que fazem tour pq o tempo curto me empurrou para eles.....então escutei isto: "o amor é um contratempo....." e me inspirei:

não temos tempo a perder
somos fugazes
a lua brilha na noite escura porque sempre
existe - também- um diamante 
na nossa escuridão.

não há tempo a perder
mas o tempo precisa ser 
cuidado.

que haja calma nesta
pressa da vida e que
a gente sempre encontre
tempo para se encontrar.

De Paulo Motta

CHUVA
Paixões amortecidas brotam, espreguiçando-se, nesse dia chuvoso e lento. O manto líquido cobre a cidade e bailam aquelas lembranças, que não querem ficar quietas em seu baú escondido, nos quartos empoeirados da nossa alma. Estou a um passo de me deprimir e mergulhar num pranto silencioso, acariciando as minhas tristezas guardadas, despertadas nessa tarde sonolenta. 
Quando ponho o pé dentro da sala, onde me esperam tristezas e cântaros de lágrimas, a filha do velhote chato do sétimo andar me puxa pelo braço! Não lembrava da Cátia Cilene, tão linda, no auge de seus vinte anos, me convida para entrar enquanto ela procurava o Camilo Mortágua que eu pedira emprestado, no saguão do Edifício Portal. 
Por que ela estava somente com aquele beibidól amarelinho não sei e nem quero saber, mas não seiondevouenfiarasminhasmãos, cruzes, vade retro, sou um rapaz sério. Já imaginou se meto a mão naquele quitute lourinho, com cabelo de massa cabelo-de-anjo, uma tentação, é isso! O demônio me tentando no Monte das Sacaninhas! E que demônia, ela. Meu cérebro disparou e perdi o controle sobre ele! Está tentando me fazer de idiota. Ou não? Acho que sim, mas talvez não, e a eternidade que a Cátia Cilene demorou para trazer o livro foram três minutos e ela voltou, rebolativa e provocante, tenra tentadora aterradora e ali, bem na minha frente, entregando o livro e eu nem lembro o que vim fazer aqui. 
Talvez eu seja um louco, mas vou beijar essa obra prima que saiu das mãos do Senhor, seria um descaso com o trabalho Dele nem ao menos tentar tocar com as minhas duas patinhas dianteiras; e ela continua me olhando, com a mão estendida e o Morte e Água do Camilo sorrindo. Consegui me desvencilhar e correr pro meu apartamento, com sofrimento, nunca mais terei outra oportunidade, sou um bobalhão, medroso. 
E chovia naquela segunda-feira modorrenta, sodomenta, gosmenta e a campainha toca. Era ela, singela donzela vestida com um jeans mais comportado, me trazer uma ficha de leitura que estava dentro do livro e caiu, poderia me ajudar no trabalho do Irmão Mainar Longhi e o Camilo Mortágua. 
Entendi tudo como uma segunda chance que a Cátia Cilene me dava, é isso! Entra, Cátia, Catinha, Catita, bonita, tenho café, Mountain Dew e bolachinhas Maria.
Nem chegamos às bolachinhas Maria, Cátia linda, delicada, amada ficou tão pouco tempo na minha vida, desceu do carrossel e foi embora com seu pai, do Banco do Brasil, pro Rio de Janeiro.
Bueno, vou almoçar depois volto para o convívio com meus amigos maravilhosos. Adoro vocês, tigrada!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Moro na beira desse mar
de revoltas palavras

Ora como um manto
de infinita areia
Ora como as pedras 
de uma inviolável fortaleza interior

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O UNIVERSO
Quando eu tinha 14 anos, meu primeiro amor adolescente me tirou pra dançar. Era apaixonada desde os 12 e ele mal me olhava. Lindo como um apolo, foi o sonho efervescente de todas as garotas de minha época. Mas os hormônios trouxeram, junto com as faces profundas do amor, os muitos quilos a mais que minha infância havia economizado. E, enquanto engordava, afastava o amor como se tivesse um vírus contagioso. Adolescentes grudavam os olhos em belas estampas e, invariavelmente, ser feliz estava ligado apenas ao que brilhava.
O amor aos doze anos é exigente e logo comecei a correr atrás de sua atenção. Era irmão de uma amiga e logo passei a visitá-la com a assiduidade de um funcionário-padrão. Pobre coração sem noção! Eu achava que ele era meu cais, meu caminho seguro construído em mundos imaginários. Mandava recados e recados e não voltavam as letras construídas em resposta. Até que alguém me contou que ele havia declarado alto e bom tom, que "nunca teria nada com aquela bolacha!".
Foi um caos interior, muito pouco compreendido, mas a inocência não via tempo para as sombras, preferindo ocupar seus dias em brincadeiras remanescentes e passeios coquetes pela praça da cidade, onde os garotos ficavam parados em bando, esperando nosso desfile. 
Enquanto eu crescia, o corpo tomava conta de suas curvas e os olhos masculinos, antes tão arredios, agora já me visitavam com o vagar de um inquilino.
Mas o amor continuava acenando de longe, até o dia em que ele me tirou pra dançar. Foi uma música, só uma - My Way -, mas durou os dois anos de espera. Por aqueles 5 minutos vivi o universo dentro do peito. Por aqueles 5 minutos as fadas do bem voaram de mãos dadas com as notas da canção imortalizada por Frank Sinatra. Depois de muito tempo a música terminou e nos separamos, ficando para sempre, em meu coração, o calor do seu corpo.
Se ficamos juntos? Claro que não! Eu já havia vivido uma vida inteira de sensações naquela pista de dança e ter conquistado seu corpo melodiosamente colado ao meu mostrou-me a magia da auto-estima e o universo, com sua gama muito maior de possibilidades, abriu seus braços à minha trajetória.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

É dia de honrar o sol
em sustenido e bemol
rezando uma melodia
nas notas dessa folia
que teimam em ofertar
a pausa no meu penar

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A SOMBRA
Cada vez que avançam os ponteiros da balança, em seu delirante desafio, sinto saudades daquela menina magricela que habitou meu corpo nos primeiros anos. Comer era a obrigação mais enfadonha do dia e eu a cumpria com o descaso de uma relação já desgastada. Com o tempo fui adquirindo uma habilidade impressionante em remexer a comida no prato, amontoando porções aos montinhos, que davam a impressão de espaços vazios. Um ou outro pedaço de carne mastigado e estava feita a ludibriante cena. Por algum tempo essa solução livrou-me do tormento, mas logo a pressão recomeçou.
Um dia, no centro da mesa, como iguaria principal, estava um vidro de óleo de fígado de bacalhau. O pai, antes que as perguntas viessem em bombardeio, começou a apresentar as drásticas resoluções tomadas pelos adultos, na calada da noite anterior. A partir daquele dia ninguém mais precisava comer, se não quisesse. Liberdade total de escolha! Bastava que se optasse por uma colherada daquele vidro mágico, com seus nutrientes essenciais, e tínhamos a liberdade do prato vazio. Pareceu-me tão pequeno o preço a pagar que, na mesma hora, agarrei-me à esperança de salvação. A colherada veio ao encontro da boca escancarada e, assim que encharcou-me o paladar, voltou como um foguete por cima do mundo e das pessoas em volta, seu gosto horroroso temperando o almoço do dia. Quem já tomou óleo de fígado de bacalhau sabe o gosto insuportável que tem. Pois o sonho de substituir a comida terminou no instante em que o provei, num golpe de mestre do pai e da Dida. A partir de então, as refeições eram consumidas com uma aplicação exemplar, sempre observadas em silêncio pelo vidro fatídico.
Penso que foi esse dia que acordou a balança. Comecei a comer, e da abrigação passar ao prazer foi um passo. A adolescência descobriu os lanches, os salgadinhos, o álcool e, até que eu aprendesse a equilibrar tudo isso, a vida atravessou um longo curso. E os quilos a mais, como uma sombra nefasta, passaram os anos caminhando insistentes ao meu lado.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Rasgo outubro
no calendário 
de minha viagem

No amanhecer
de um novo mês
o dia cheira a talco

domingo, 10 de novembro de 2013


Enfim podemos voltar à troca de palavras! Enfim "Roubar Pérolas" vai voltar a ser um hábito dominical. A utilidade das baratas, na visão do  Paulo Motta e o poema a um novo amor, do Eduardo, fazem o dia nascer mais rico...

De Eduardo Magrão Menezes

PÉROLA NEGRA
Me sinto amor velejante
Em marolas suaves
Singrando teu doce sorriso,
Pra ancorar em teu beijo!

De olhos fechados
Sinto a brisa do teu amor
A sorrir de braços abertos,
Aprendo a voar...

Me transformo,
Transmuto...
Adolesço calmamente.
Sou um novo...
Velho coração aprendiz,
No amor sabor chocolate,
De minha negra Nana!

De Paulo Motta

CUCARACHAS
"La cucaracha, la cucaracha
Já no puede camiñar
Porque no tiene
Porque le falta 
Marijuana pra fumar.
Una vieja con un viejo
De noche dormiam juntos
Porque la vieja tenia 
Mucho medo a los defuntos..".
Quem tiver nervos fracos, estômago vazio que não suporte cenas fortes, por favor, desligue o aparelho e vá pentear macacos. Vou falar sobre a pequena e asquerosamente injustiçada barata!
Discriminada, principalmente pelas mulheres, esse pequeno animal envernizado, tem a capacidade de sobreviver aos cinco cavaleiros do apocalipse - incluímos o Renan Calheiros - e mais 24h assistindo ao Faustão. Mas não aguenta uma chinelada, vejam vocês! 
Muitas vezes passei por verdadeiro herói ao matar, corajosamente, horrenda e perigosa barata que ameaçava a delicada donzela que urrava, pulando, sobre a mesa de centro. Sem a barata e suas anteninhas ligadas nas mulheres - elas adoram as mulheres, devem ser todas baratas machos, ou baratos - eu não teria vivido tantos momentos de heroísmo diante das namoradas. Uma delas, a Malu, mulher decidida, dona do próprio nariz, ciente de seus direitos e limites, nem sei como quis ter alguma coisa comigo, meio dependente, muito preguiçoso e meio bêbado. Mas essas coisas que a natureza nos atira no colo e diz: te vira! 
Uma noite estávamos nos preparando pra sair e ouvi um grito seguido de vários outros e objetos quebrando - juro que pensei que fossem o Jackie Chan e o Chuck Norris trocando gentilezas na minha cozinha - corri até lá, abotoando a camisa e me deparei com 1,76 e 75 kg de Malu sapateando na pia de granito, observada por uma hermosa cucaracha, no chão. Mas o bichinho é debochado, mesmo! Se aproximava e a Malu berrava, então ela recuava, e avançava novamente! Uma barata inteligentíssima, pensei em treiná-la e montar um show! Para aprimorar a coreografia do destemido justiceiro de baratas, armei meu melhor golpe, aprendido em segredo com os monges baratolins - primos dos shaolins - e, zás! matei o nojento mamífero, antes que a dama destruísse minha pia a pisotaços! Matei e exibi o cadáver, que nem um carrasco exibindo a cabeça do decapitado, minha glória de cavaleiro vingador das vestais ameaçadas por seres de todos os tipos. Desde que os tipos sejam bem menores do que eu, é claro!
Pra quem pensava que barata não tinha utilidade, ela pode ser responsável pelo aumento da tua autoestima, quando esmagares uma e receber da namorada um beijo, seguido de um "Meu herói!", hein, hein? E viva a barata, a barata, cantada em verso, cantada em prosaaa!
Na próxima aula - anotem, por favor - tragam-me uma síntese sobre as baratas voadoras. Do que se alimentam, onde vivem, pra onde vão, quais seus escritores prediletos, ok?
Boa tarde a todos e bom sábado. Vou ao jardim, depois conto como estão meus pés de bigorrilhos, que começaram a brochar. Até...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Seguia tão distraída
pensando poemas
que quase tropeço
num raio de sol...
O CASAMENTO
A mãe, uma artista de sentidos repletos de emoção, adorava música. Nos cinco anos em que convivi com ela, estive sempre rodeada de noturnos, sonatas e concertos, que me embalavam os sonhos como se Chopin, Bethoven ou Liszt estivessem ali, ao alcance das mãos. 
A eletrola, elefante-branco que reproduzia sons, foi a grande aquisição da família, antes da era da televisão. Tinha o tamanho de um balcão de 1 metro de largura e era composto de toca-discos, rádio e auto-falante, reunidos num mesmo móvel que ornamentava a sala, como ornamentavam nossa vida os sons que dele saíam.
Todos os meses, quando recebia seu vencimento, como era chamado o dia do pagamento do salário de professora, a mãe trazia um disco novo pra casa. Era uma coleção mensal, muito bem gravada, com excelentes músicos e tinha uma característica irresistível. Vinha lacrada e só revelava seus segredos sonoros a quem apostava em seu escondido conteúdo. Com a curiosidade como maior propaganda, era uma coleção que desaparecia rapidamente das bancas. A mãe trazia o pacote inviolado e o abria na nossa frente, que reunidos em volta, saboreávamos a novidade. E o som, como se fosse volátil, se espalhava no ar para que o respirássemos.
Embalada nesse sonho, um dia ela comprou um piano. Quería-nos virtuoses a embalar seus dias. As manas logo foram para as aulas de música com a professora Alda Eggers e eu, como tinha só três anos, assistia fascinada. D. Alda era severa e exigia uma seriedade difícil de manter em meninas de oito, dez anos. Mas, a partir das escalas cansativamente repetidas pelas manas e espiando o que acontecia nas cordas dentro do piano, fui compreendendo a peculiaridade de cada uma daquelas teclas mágicas. Daí a querer experimentar as notas foi um passo. Tirei de ouvido "Atirei um pau no gato" e, como o miau final era uma oitava acima, eu ficava procurando a nota até que o ouvido a aprovasse. Quando apresentei a música pra D. Alda, ela ficou encantada. Sua turma de alunos tinha uma audição de piano naquele mês e ela resolveu encerrar as apresentações com aquele miau procurado na ponta do dedinho indicador. Ah, como me lembro daquele dia em que, pela primeira vez, tive contato com a arte. Todas as pessoas que bateram palmas, pela ousadia de uma garotinha de três anos em busca dos sons, não sabiam então que se iniciava um casamento indissolúvel. E que, quase sessenta anos depois, numa viagem de palavras, cores e sons, das pontas dos meus dedos ainda fugiriam ideias em frenética busca de ar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Aos meus amigos nesse caminho de palavras, não estou afastada por vontade própria, mas estou sem internet desde o dia 27. Logo, logo estou de volta e tudo que tenho escrito poderá voar!