domingo, 30 de junho de 2013

"Enquanto você se engana, na contramão da felicidade, 
eu e ela já estamos de mãos dadas, a gargalhar..."
Essa pérola faz parte do poema da Val Saab, publicado hoje no "Roubando Pérolas" do nosso blog. Ele é tão rico, que me trouxe três interpretações, todas tão encaixadas, como se a Val tivesse feito não um, mas três poemas. Uma interpretação é sobre o fim de um relacionamento falido. Outra interpretação é sobre uma pessoa idosa, já prestes a partir pra outras searas, e dotada de enorme sabedoria. A terceira interpretação é sobre o momento atual, sobre as manifestações e um "recado" pros políticos. Por mais que eu leia, todas as interpretações cabem e Val mantém o mistério... Com vocês!...
Ainda temos, como em todo domingo, Paulo Motta e suas crônicas maravilhosas e o lirismo de Eduardo, hoje com um poema sobre a lua cheia.

De Val Saab

Eles querem mudar o caminho

e mostras desvios na minha direção
mas, desculpa, seu moço,
eu sei muito bem para onde estou indo...

Para onde vou, 

meu olhar é importante e minhas mãos também.
O que visto e o que carrego na carteira,
são problemas meus.

Desculpa, seu moço,

porque você quer me levar para a direção errada.
Não vou cortar os pulsos e chorar nenhuma tristeza,
pois não há tristeza maior 
do que as mentiras que escuto e que finjo acreditar.

Na verdade, as mentiras são todas minhas 

e fui eu quem pus em outras bocas
para escutá-las e desprezá-las.

Não se preocupe, seu moço,

o senhor não é responsável
por nenhum dia de sofrimento meu, 
já que meu sofrimento
é meu próprio engano e eu bem sei.

Mas olha, siga lá seu caminho

e deixe o meu em paz, pois, enquanto você se engana 
na contramão da felicidade, 
eu e ela já estamos de mãos dadas, a gargalhar.

Acontece que a sua história e a minha história

se esbarraram em um momento crucial, 
quando olhei para o espelho e vi um sorriso e você,
totalmente equivocado,
olhou e chorou.

Aí a vida disse: ai, este moço fez tudo ao contrário

e, então, você teve que partir.

Perto do meu coração, só tem lugar para um coração bom, 

perto do meu ar, ar bom,
e perto do meu sorriso, um outro 
que inspire vontade de viver...

Adeus!...


De Eduardo Magrão Menezes
LUA CHEIA
Amada lua
De todos nós
Doce madrinha
Dos namorados

Grande rainha
Da linda noite
Que testemunha
Beijos roubados

És o presente
Que não tem preço
Que não se entrega
Mas todos dão!

E a namorada
Emocionada
Tua luz reflete
No lindo olhar

É lua cheia

Luz prateada
Farol de amores
Na madrugada


De Paulo Motta

Enroscado nos meu pelegos nesse frio maravilhosamente gelado, pensando asneiras, claro, vendo um pouco da corrida de baratas na tevê, com o Galvão Buenos Dias narrando, não vi o Clay Regazzoni nem o Jackie Stewart, da Tyrrel, na peleia. Acho que o Fittipaldi está em décimo sexto, com o Copersucar, motor Cosworth, booom! Dou uma zapeada nos canais e nada encontro que me prenda a atenção a não ser, arrá, meu amigo Pica-Pau, na Record! O Pica-Pau demente, não o politicamente correto, atormentando Seu Leôncio, um encanto! Isso é que é programa educativo, não aquelas novelinhas de final de tarde onde todo o mundo sacaneia todo mundo, dando belas lições pra criançada de como se transformar num grande bandido! E bandidos politicamente corretos: não fumam, não bebem, respeitam as minorias sociais e dão preferência aos idosos na fila do teatro. Não existem mais bandidos como antigamente, aquele bandido feio, barbudo, com um toco de charuto pendurado no canto da boca, dois dentes de ouro chamado Bud, que emboscava o mocinho no desfiladeiro. Os facínoras de hoje usam Armani, fumam Montecristo e frequentam restaurantes impensáveis para a chinelagem que nem nós. Nesses restaurantes, em frugais refeições, decidem o destino do país, da Copa, das Olímpiadas e de quem pagará a conta. Do restaurante, é claro! Ainda bem que foi proibida a musiquinha do Atirei o Pau No Gato - que é do Villa-Lobos, sabiam? - senão imagina no que se transformariam essas próximas gerações? Assassinos psicopatas pervertidos, certamente! Tenho escutado músicas filtradas pelo MEC, ao alcance da meninada, coisa sadia do tipo "te pego de quatro e arraso o bumbum, bundinha na minha e créu tchum, tchã, tchã"! A Estrela já está lançando bonecos e bonecas com opção sexual e assessórios, é pro fim do ano! Beijinhos, vou tomar suco Ades de maçã...

sexta-feira, 28 de junho de 2013


Tirem-me um prato de comida
Tirem-me um casaco
um cobertor
Tirem-me os aliviados ares de primavera
Tirem-me tudo que adorna essa passagem
mas não me tirem 
a capacidade de reconhecer o amor

É ela que nos conduz 
com suas mãos encantadas
em direção aos invisíveis panos de seda
que nos preservam pela eternidade
da fome e do frio

quinta-feira, 27 de junho de 2013

EXISTE MAIS VIDA NO SUL DO EQUADOR
Confesso que já estou um pouco cansada do feed de notícias, de minha página no Facebook. Reconheço a importância do movimento de protesto que se levantou no país. Reconheço sua necessidade e os benefícios que pode trazer, principalmente a longo prazo. Mas os slogans já começam a ficar repetitivos e fogem do foco principal, que é o de lutar pela moralização na política. Se ilude quem pensa que o mensalão é o único vilão. Ele só foi mais um - e desta vez altamente divulgado pela facilidade de informações - nos desvios de conduta gerados pelo poder. A despeito do que pensam os saudosistas, a corrupção foi enorme no regime militar, a ponto do próprio Castello Branco dizer "0 problema mais grave do Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar". Medalhas a torturadores, "mensalões" a empresários que auxiliassem na caça às bruxas, desvios de verbas na construção da Ponte Rio-Niterói e Transmazônica, obra nunca concluída (A corrupção correu solta durante a ditadura - Postado por Juremir Machado em 7 de junho de 2012 e Moralismo Capenga, por Heloisa Maria Murgel Starling, em 23 de março de 2009). Sem contar o autoritarismo extremo, que jamais nos deixaria vivos se falássemos o que falamos hoje.
E por aí vai... Quem não se lembra das atrocidades do Collor da Dinda?Ou dos Anões do Orçamento? Ou da farra do TRT de São Paulo? Ou do Banco Marka? Ou dos Vampiros da Saúde? Ou da fraude do Banestado, do Paraná? E poucos foram punidos. Ou se foram, já voltaram...
Isso é que me entristece. Essa corrupção inerente à política brasileira. Esse jeitinho brasileiro que tão ardentemente combatemos e tão facilmente esquecemos, quando andamos acima da velocidade, entre um pardal e outro, quando andamos de bicicleta na mão contrária, na ilusão de segurança nossa e dos outros. Quando levamos um suvenir, em viagem, sem licença, dizendo, já estamos pagando por isso. Quando não devolvemos um troco errado. Quando tentamos baratear um preço justo, etc, etc, etc
Por isso, essa guerra de "bandeiras", pelo Face, está me cansando. Porque o que precisa ser mudado é muito mais do que nomes.
Sigo então com meus poemas e peço que voltem os comentários sobre livros, filmes, teatro, música, artes plásticas, a cultura em geral como troca principal, pois esse sim é um gigantesco movimento capaz de mudar a filosofia de um povo.

Como se não bastasse o risco de sol
entrando pela janela do banheiro
a toalha é limpa
e o sabonete é de maracujá

É covardia com o desespero
É covardia


quarta-feira, 26 de junho de 2013

Respira respira respira
respira e pensa

Formula então teus eloqüentes versos
um pouco menos dotados de paixão
como se a vida fosse elaborado quadro
onde a matemática das cores primárias
justificasse o verde irradiado das folhas

Posso confessar por que desconfio das noites?

Nelas ressuscitam punhais
antes amortalhados por peitos solares
e giram giram giram os gumes afiados por sombras
na cova escurecida de seus males

terça-feira, 25 de junho de 2013


Quando restar apenas um
irei ao seu solitário encontro
para que nossas células se multipliquem
em berços renovados

Mas quando restarem cem
talvez eu permaneça calada
a observar com a distância necessária
por que lutam os pares e os ímpares
se seus avessos se movimentam num mesmo círculo

A observar por que desistem os pares
na ilusão da completude
e por quem ambicionam os ímpares
na inquietude da desigualdade

Talvez eu permaneça calada
porque sou covarde para prevenir o mundo
que os pares e os ímpares
de mãos entrelaçadas 
completam sem transtorno a teia do infinito

segunda-feira, 24 de junho de 2013


Se alguém perguntar por mim
diz que eu também fui por aí
com essa curiosa aptidão para os detalhes
e a melodia das palavras
feito notas musicais
roubadas de um violão
que há tempo repousa debaixo do braço

domingo, 23 de junho de 2013



Que mais dizer do amor, quando ele chega através de palavras tão doces? Esse é um Eduardo ainda mais lírico do que sempre tem sido...
No contraponto, a análise ácida de Paulo Motta das manifestações pelo país.
Duas pérolas que roubo sem remorso...

De Eduardo Magrão Menezes

Quero a luz dos teus olhos
Tua sede de amar
Tua pele arrepiada
Tua boca pra beijar

Serás amor perfeito
E serei teu beija-flor
Sugarei todo teu néctar
Doce gosto de amor

Também serei jardineiro
Nas nuances da paixão
Regando com muitos beijos
Minha flor do coração

De Paulo Motta


Um monumental protesto em todo o Brasil. Avassalador, contagiante, apesar dos marginais que participam com intenções menos nobres. Uma manifestação como nunca se viu neste país. Jovens, veteranos, homens, mulheres de saco cheio dessa roubalheira e falta de respeito com o ser humano brasileiro. Audazes, ousados, indignados! E acéfalos. Cadê os líderes, os homens que deveriam conduzir essa massa furiosa? Esperava que a nossa presidente surgisse como um norte, como uma verdadeira condutora do rumo desse megaevento que entrará pra história do Brasil. Em rede nacional, comportou-se como se estivesse diante de uma greve dos metalúrgicos ou dos servidores federais. Disse obviedades, talvez para ganhar tempo, esperando que o movimento, com o tempo, se fragmente e esmoreça diante de seus olhos, o que seria de uma ingenuidade absurda. Mas como mudar o que está aí se continuarem os que estão lá? Não estamos em 61, quando Brizola - governador do RS - formou a Rede da Legalidade e o Tancredo assumiu, num regime parlamentarista, como Primeiro Ministro e o Jango, Presidente. Não há nenhuma liderança que una esses brasileiros em torno de alguma proposta. O único rosto que vejo em todo o lugar é o do Guy Fawkes, de bigode e cavanhaque, nas máscaras da garotada. Máscaras baseadas no personagem Codinome V, do filme V de Vingança, por sua vez inspirado no gibi homônimo que circulou no final da década de 80. Guy Fawkes foi enforcado em 1606 por participar da Conspiração da Pólvora, movimento que pretendia explodir o parlamento inglês. Mas Codinome V é ficção! Se fossem máscaras do Joaquim Barbosa seria compreensível; me parece que na ausência de gente de carne e osso, apela-se pra ficção que seja mais próxima da realidade. Buenas noches.

sábado, 22 de junho de 2013

Moro num armário de portas abertas
com as cores da paz a dançar em cabides

Moro num armário de portas abertas
porque às vezes preciso encostar em paredes
para escapar das geadas dos maus julgamentos

Moro num armário de portas abertas
onde me visitam as boas intenções
e todos os sentimentos mais puros

Moro num armário de portas abertas
de onde saio a viajar em busca de amigos
que ousam comigo um vôo infinito
no espaço mais amplo das mentes luminosas


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Um fósforo 
não queima as mãos 
por ser um fósforo
Ele queima apenas 
por estar aceso

quinta-feira, 20 de junho de 2013


Volto a te buscar na casa vazia
mas já não sei quem és
Os fantasmas espiam pela janela
e se confundem com tua forma

Mesmo assim
não sei quem és
nem sei de quem a voz que canta
porque os fantasmas não estão mortos
e repetem sempre o mesmo drama

Não sei se um dia
poderei pensar em ti sem solidão
porque a busca é um labirinto
e a verdade pode ser insuportável

quarta-feira, 19 de junho de 2013


Não quero nunca mais
partir do zero
este lugar tão nulo e deprimente
E nem do um
pobre número egoísta

Quero alguma coisa onde eu assista
amigos que deixei
uma conquista
um verso que foi dito

Quero partir donde parei
e não sou muito exigente
A mala pronta já viaja displicente 
a algum lugar entre o dois
e o infinito

segunda-feira, 17 de junho de 2013


Vou embora pra sempre
paixão da minha alma
vou embora de ti

Vou embora da noite

em busca da vida
vou embora de ti
Desfolhar com meus dedos
os próximos dias
em busca de paz

E sem que percebas

vou buscar da tua boca 
o pedaço de mim
que ficou tatuado
meu amor
e partir para sempre
num destino traçado

E quando aos teus olhos

nascerem enfim
margaridas em flor
te lembra de mim
minha paixão
Vou sair como um anjo
de asas libertas
do teu coração 

domingo, 16 de junho de 2013

Por um acidente na configuração, nosso 
Roubando Pérolas saiu com data de sábado, mas foi publicado neste domingo de manhã, como sempre acontece.. Essa é e sempre será a leitura do domingo!

sábado, 15 de junho de 2013



Hoje, nosso Roubando... está mais ladrão do que antes. Além dos guris, o Motta e o Eduardo, que sempre nos alegram e nos emocionam, vamos começar com a poesia de Val Saab, que se apresenta hoje e promete o brilho de sua vida interior..
E, também, numa nova etapa desse nosso blog, começamos a apresentar a arte de Liana Di Marco, hoje com uma de suas obras mais expressivas, O Disco Solar, da Coleção Incas, Maias e Astecas. Sejam felizes, porque eu estou feliz em publicar essas pérolas que nos enriquecem...

De Liana Di Marco



De Val Saab

Eu sou valéria
gosto de bombons 
e de sol
não sou magrela
nem sou baby de alguém
se existe brilho, eu não sei.

De Paulo Motta

Meus abraços aos amigos e amigas, estendo meus braços em abraços. Abraços longos, apaixonados, outros mais irreverentes dados em quem já foi, mas no fundo ainda é, abraços abraçados colados com o nariz enterrado nos cabelos que tem aquele cheiro de para sempre, aquela cor diamante de amante, de cumplicidade e segredo. O inventor do abraço certamente foi a inventora mulher, que nos ensina a abraçar antes de darmos os primeiros passos e nos vicia tanto que, às vezes, antes de dormir, precisamos daquele abraço colado melado pegado quentinho, que jorra lá de dentro do coração e acalanta nossa alma. E quando ficamos sem abraço, não há o que cure a crise de abracite aguda, que assola o coração quase congelado, entristecido. Mas tem que ser um abraço sorridente, contente, pulsante, que derreterá todo o gelo, revestirá aquele coração antes gélido em uma ursinha enrolada na manta colorida da vovó. Abraço morno, quente, enroscado, distraído, escorregadio por dentro da roupa quente mão gelada, coisa boa, rerere! Que ótimo dia pra um, dois, dez abraços, meus amigos. Beijinhos e Abracinhos!

De Eduardo Magrão Menezes

MALDITO POETA

Maldito poeta
que brota em meu peito
és um covarde.
Sim, tens defeito.

Me enganas a mente,
me faz enganar,
pois minto a todos
aos versos mostrar.

Sou propaganda enganosa, 
tenho enganado aos outros
como enganei a mim mesmo.

Sou louco demente, 
como poder num repente
alguém assim tão carente
virar um poeta contente?

Só pode ter sido o coração
que traiu minha razão, 
mas agora caí na real,
desculpa, não foi por mal.

Preciso me retratar, não sou poeta.
Sim, é verdade, nada tenho de poeta.
Quem faz lindas poesias és tu,
sim, tu, poetisa, meu amor.

És tu a musa, a inspiração.
És o que sinto, és a paixão.
É teu sentimento, tua luz
que vampirizo e depois...
apenas traduzo, 
tentando colocar no papel
a poesia em que transformaste minha vida.
Desculpa, poetisa, errei,
mas foi por amor...


Não se afaste de mim a indignação
porque ela tem braços compridos
para alcançar tremores mais tímidos
e os raptar do medo

Não se afaste de mim a indignação
porque ela tem pernas compridas
para viajar em campos poeirentos
em busca da luz mais sublime

Não se afaste de mim a indignação
inteiramente dotada de generosidade
para que eu não a use em benefício próprio
esbravejando ao mundo 
meus pobres julgamentos cáusticos

Venha a mim
fique em mim como uma dádiva
essa indignação gigantesca e poderosa 
como os oceanos
e suave suave suave
como a espuma de suas ondas

sexta-feira, 14 de junho de 2013


Num dia de sofrimento qualquer
escureceu no meio da tarde

Ninguém me conhece desde então
Nem tu que te esvaíste em valentes propósitos
destroçados propósitos
- quisera que fossem

Ninguém me conhece desde então
porque a terra morre em noite
e meu perfil de estátua dorme em pé
olhos de vidro
coração afundado

A flor não me conhece desde então
nem as manhãs e seus dourados queixumes
O amor como louco
deixou-me o ar congelado

A vida não me conhece desde então
Só a noite retém um resto de sangue
mas no lugar das estrelas
crateras sem fundo

quinta-feira, 13 de junho de 2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Por todos os dias da minha vida em que não te vi
peço desculpas

Sei que vim lentamente
de pés nus e coração apertado
pois não sabia onde moravam tuas esperanças
Mas a cada vez que violei 
as definitivas regras de solidão
e imaginei um amor tão acalentador
era em ti que pensava
embora eu não soubesse

Possuo-te agora 
- e já tão tarde -
porque descanso ternamente em teus pensamentos
e eles alimentam cada célula do meu corpo 
como se o conhecessem
sempre e sempre
de algum lugar perdido do passado


Pois não é o amor
com sua milagrosa química de sensações
que recheia nossos vãos internos
com o mais endiabrado coração?

terça-feira, 11 de junho de 2013


Sempre que tomas
aventureiros rumos avessos aos meus
mas me dizes SIM
sinto tão presentes os teus pensamentos
como se estivesses segredando 
delicadas preces aos pés de meus ouvidos

Mas se bates à minha porta
e me dizes NÃO
enquanto olho na distância dos teus olhos
viajas automaticamente
de volta a galáxias desconhecidas
onde te perco nas mais longínquas estações

segunda-feira, 10 de junho de 2013


Quero ser muito mais
que a casa da família
o filho que não veio
irmão sobrinho tia

Quero ser para ti
alguma coisa um carinho um sinal
que te faça ver no escuro
o espelho do quarto

Quero ser a libertação
a escada degrau por degrau

Quero ser para ti
uma lanterna um cobertor
uma coca-cola
alguma coisa um carinho um sinal
que te faça encontrar no escuro
o caminho de casa

domingo, 9 de junho de 2013


O Eduardo, Chabe pra nós da família, chegou ao mundo quando eu tinha 6 anos, e passamos muitas aventuras nessa primeira infância e adolescência, apesar da diferença de idade, pois tínhamos muita coisa em comum. Depois, a vida nos separou... E por um milagre, através do Facebook, nos encontramos depois de mais de 30 anos. Esse reencontro, embora à distância, tem sido rico em emoções. E claro, em poesia. Publico hoje, no Roubando Pérolas, um poema que ele me enviou ontem e que me deixou muito muito comovida...
E do Paulo Motta, um de seus mais belos textos, um hino ao amor...

De Eduardo Magrão Menezes

MARIA CLARA

Clara Maria
linda menina
de alma clara
tão cristalina.

Loira Maria
Maria Clara
mulher que cria
gatos & cia.

Ouvi seu canto
tocando viola
voz afinada
alma que chora.

Me ensinava canastra
no jogo da infância
e a ter tolerância
na vida madrasta.

É Caca, minha prima
tão chic... Ti mete!
Clara Frantz... poetisa
com blog na net.

Sorriso de luz
que a todos encanta
entrega sua alma
se escreve, se canta...

Meus doces recuerdos
a ti ofereço
Singela homenagem
que sei, não tem preço.

Pois mais tem valor
que sangue ou costume
é a felicidade...
do amor que nos une!


De Paulo Motta
Dia meio chuvoso, meio solzinho de final de tarde, mas no geral, bom. Parei de azucrinar a Neiva antes que ela ficasse neivosa, que nem disse o Hildebrando. Daqui a pouco será o Dia dos Namorados, hein? Não sei onde ouvi que o Dia dos Namorados vende mais que o Dia das Mães, pois mãe a gente só tem uma! Engraçadinha essa, um mimo! Mas tem uma piadinha espirituosa rolando no feice que é, mais ou menos assim: "Estar sem namorada no Dia dos Namorados é como estar vivo no Dia de Finados!". Não concordo totalmente com isso; se estamos com alguém legal, parceiro, que te olhe diferente e te faça sentir, às vezes, a pessoa mais importante do mundo, vale a pena. Mas é um negócio complicadinho pra nós, meros mortais. Eu tive dois relacionamentos sérios, apenas dois. Mas valeram por todos que poderiam acontecer na minha vida. E o melhor de tudo é que deixaram de ser romance e viraram amizade. E não foi aquela amizade por decreto, foi uma coisa que fluiu ao natural, tranquilo, sem ressentimentos ou rancores. Aliás, devo minha vida a essas duas pessoas, literalmente. Juntaram os meus pedaços e colaram tão colado que eu fiquei quase novo de coração e alma. E elas, cada uma a seu tempo, com a paciência e delicadeza tão peculiar nas mulheres, me cuidaram, apesar de eu ser um chato e pouco confiável, me apoiaram e me incharam de carinho e atenção que nem sei se mereço. Vou levá-las, sempre, comigo onde for que eu estiver. Ana Maria e Maria Cristina, magnânimas, minhas amigas pra sempre, amo vocês!

sexta-feira, 7 de junho de 2013



Rainha dos meus florescidos
espaços internos
pode me explicar
quem é essa mulher
que tanto assoprou tormentas
às minhas antigas
e desesperadas palavras?

Quando meu deus quando

fui essa mulher
e sua poética assombração?

Não me culpem 
por viagens ao umbral

Pediram-me um pouco da história
e a história se faz de dias e noites
Pediram-me uma exposição
e as gavetas arregaçaram os vãos

Salve-se quem puder
pois já fugi faz tempo das horas entrevadas
Como os bichos antecipei perigos maiores
e eis-me aqui
a cantarolar imagens rosadas
me perguntando como passei tanto tempo ao relento
e como senti tanto frio
sem saber onde procurar um abraço apertado

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Nada como um dia 
antes do outro...

Bendita oportunidade de levar
abarrotada bagagem
de percepções e experiências
quando raiar a página branca
do dia seguinte

No dia em que árvores
nascerem no mar
terei esquecido que te amei

Pior!
No dia em que o mar couber inteiro
nas ranhuras da folha
terei esquecido que te amei

O milagre espera a vez...
Em que roseiras possam florir nas pedras
Em que a terra não seja repartida em linhas
Em que homens apaguem seus rios de sangue

O milagre espera a vez...
No dia em que minha clara lua 
puder lavar tuas águas turvas
terei esquecido que te amei

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Uma homenagem da natureza 
ao Dia Mundial do Meio Ambiente...


Num dia tão belo
ninguém merece morrer

Aquela parcela de mim
que morre todos os dias
a que se esvai em doses homeopáticas 
não ameaça partir

Decididamente
vou ficar atrasada com o ciclo da vida
porque num dia belo assim
os relógios andam pra trás

terça-feira, 4 de junho de 2013

Tudo foi rápido demais...

O amor
feito para o entendimento
deixou-me mergulhada
num leito de cal virgem

O sol é um impostor
a lâmpada
a chama da vela

Meu coração habita
a treva da carne

Não há luz
que conduza no peito
o sangue da veia
debaixo da pele

Meu coração habita
a ponta da veia
e pulsa
pulsa
pulsa
no escuro
por ti

segunda-feira, 3 de junho de 2013


Fica longe demais
o jardim prometido

Além do arco-íris
Além do tempo que resta
amanhã

Fica longe demais
a poesia com as cores do sol
porque hoje sou um elemento
perdido no horizonte
Além das palavras possíveis...

domingo, 2 de junho de 2013



Hoje, nosso Roubando traz, além das inspiradas palavras do Motta e do Eduardo, mais em lindo poema do Laurinho, das pérolas que ele deixou...

De Lauro Frantz Filho

PÉTALA DO AMOR
Quando,
rapidamente, 
ela por mim passou,
a fímbria de sua veste me roçou.

Do seu coração,
como de uma ilha desconhecida, 
veio a mim
um sopro de primavera,
súbito e morno.

Acariciou-me um hálito fugaz
e evaporou-se logo,
como esvoaça ao vento
a pétala solta de meu amor.

E,
sobre meu coração,
caiu uma,
como murmúrio de seu corpo,
e outra,
como suspiro de su'alma...

De Paulo Motta

Ser humano, o que é? Bom, acho que ser humano é gostar de si mesmo pra poder gostar dos outros, primeiro doar pra depois exigir, coisa que o ser humano costuma fazer ao contrário. Mas é complicado, pois nos amestram pra agradar aos outros: "Filho, canta aquela música pro tio!", "Dança pra tia Mirta ver como tu danças bem!", e nossa auto-estima cresce na medida em que os estímulos externos positivos aumentam. Acostumamos a sermos gostados e paparicados, mas inibimos nossa auto-crítica e crescemos agradando os outros, esquecendo do que gostamos e valorizando, demasiadamente, o que querem de nós. Acho que ser humano é gostar de fazer companhia a si mesmo, se perdoar com mais frequência e descobrir que a cara amarrada do colega novo é só timidez. E o ser humano tem o péssimo hábito de querer agradar os de seu mundo, ostentando um novo carro ou o último modelo de celular; esquece que a vida acontece de dentro pra fora. Isso o torna triste e ele não sabe. Quando descobrir dirá: "Eu era triste e não sabia!". Ser humano é desistir de uma discussão boba, abrir mão de ter razão pra ser feliz. Ah, isso no papel é tão simples, né? Na prática é mais difícil mas, na minha humilde opinião, na medida em que resolvemos abrir as portas internas e externas da nossa casa, vamos descobrir alguns tesouros em algumas peças empoeiradas, outras que fecharemos para sempre, e muitas que nos esperavam há anos e que nunca demos muita bola. Me perdoem, chegou a enfermeira pra me encher de remédios, e vem com uma cara de iguana, melhor parar, depois retornarei ao alegre convívio de vocês!


De Eduardo Magrão Menezes

SOLIDÃO 
Afinal, o que é solidão?
Perguntaram em desafio.

São vários os solitários
E tipos de solidão,
Depende de cada pessoa
Do seu tipo de visão.

Pode ser morar sozinho
Sem ninguém pra conversar
Ou então acompanhado
Sem amor compartilhado.

Para uns solidão é defeito,
Pra outros seu próprio jeito.
Tem quem goste, é solução,
E quem odeie, é escuridão.

Mas o certo é que muitos confundem
Solitário com solidão.
Solitário é estar sozinho,
Solidão é assim se sentir.

Mas, é claro, não vou mentir,
Também já senti solidão.
Vivia triste, perdido,
Quase perdi a razão.

Chorava com o peito magoado,
Me sentindo abandonado.
Foi aí que entendi o recado:
Pra o poeta, solidão... 
É ausência de paixão.