sexta-feira, 31 de maio de 2013


Fundi
uma rosa
nova
no peito
do bem
-querer

E em prol
da velha
harmonia
entre a cor
e a poesia
fundi
coração
que salta


na terra
onde falta
a flor

quinta-feira, 30 de maio de 2013


A solidão anda descalça
para que não se a perceba

Anda a pé 
e traz no silêncio
tudo aquilo que necessitamos
aprender dos desencontros

A irresponsabilidade
de se pensar no plural
no coletivo
nos distrai da dolorosa realidade

Todos
irremediavelmente
somos unos

quarta-feira, 29 de maio de 2013


Quando vejo o chão que tu pisaste
recordo tuas pegadas em profunda comunhão

É sempre assim
Teus lábios de cetim
também guardados
A voz em derradeira comunhão
E os olhos
os olhos desnudados

É sempre assim
Teu sorriso abrindo eco em mim
e a ilusão de ser feliz
como uma fada

É sempre assim
Repito amor amor amor
e em tão feliz visão entrecortada
tomo-te o corpo como eu sempre quis

terça-feira, 28 de maio de 2013

É muito muito mais difícil
o senso de justiça
em relação
aos nossos próprios pecados
Todas as coisas
um dia retornam
mas sempre se repetem
num instante novo

Como uma onda
no meio de um mar revolto
que vai e volta
num lugar diferente
de onde saiu

segunda-feira, 27 de maio de 2013

domingo, 26 de maio de 2013


De Eduardo Magrão Menezes


BORBOLETA
Não haverá como esquecê-la...
Onde houver borboletas, lá você estará,
Lembrando-me que me fez voar.
E minha alma voará até a borboleta....
Tentando te reencontrar!

De Paulo Motta


Estava recordando as história infantis da minha época, que estão banidas da vida das crianças de hoje, pois são politicamente incorretas. Ali Babá e os 40 ladrões, por exemplo, é uma história hedionda, de roubo e traição - nada que não se veja na novela das nove - e culmina com a escrava de Ali Babá, Morgana, matando os 40 ladrões, derramando óleo fervente nos potes de barro onde estavam escondidos. E Ali Babá tinha uma escrava! João e Maria nem se fala! Os pais saem com as crianças para a floresta, com a intenção de extraviá-las no mato, pois não tinham o que comer. O Gato de Botas é um competente estelionatário, que mente pra seu dono se dar bem. E ele se dá. O Pequeno Polegar sofre bullyng dos irmãos por ser baixinho. Chapeuzinho Vermelho é explorada pelos pais, que mandam levar remédios e comida pra vovó, no meio da floresta. Que filhos deixam uma velha sozinha e doente no meio do mato, onde tem um lobo à solta? E idiota, pois não consegue ver diferença entre a vovó e o lobo de óculos e touca. Hoje, se fossemos contar essas fábulas, seriam readaptadas. Os pais de João e Maria receberiam Bolsa Família e não precisariam se desfazer das crianças. O Pequeno Polegar seria encaminhado para um Programa de Inclusão Social, que o realocaria ao mercado de trabalho. Os caçadores que matam o lobo seriam presos por abater animal silvestre, e Chapeuzinho vai parar no Conselho Tutelar. Ali Babá seria preso por manter trabalho escravo em casa, e Morgana é processada por eliminar 40 cidadãos de forma cruel. Responderá o processo em liberdade, pois tem residência fixa e não tem antecedentes. Viu como até pra contar uma historinha tu corre o risco de ser enquadrado? Buenas Noches, tigrada!

sábado, 25 de maio de 2013


Melhor permanecer calada...

São os pássaros
que conduzem a conversa
em efervescentes
cerimônias matinais.
Se me fosse permitido
caminhar sobre as águas 
estaria mais perto de ti
Na outra margem 
moram os sonhos
entre muros de aço
e ensurdecedores sons
na contramão

Se me fosse permitido
caminhar sobre as águas
escalaria teus sonhos
em busca de janelas
como meus olhos
escalam coqueiros
em busca do sol

Mas se a ti fosse permitido
caminhar sobre as águas
certamente nascerias de novo
paredes de flor
e murmúrios de vento
nesse milagre de apenas brindar
o dia que começa
e a noite que termina

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Não fugir
de nossas imagens farpadas
é tão milagroso
quanto ler um livro

Ambos colocam nossos méritos

na devida proporção
e enriquecem
irremediavelmente
nossas escolhas 

quinta-feira, 23 de maio de 2013


Como existem armadilhas
contra a satisfação

Algumas
bem concretas

Mas a esmagadora maioria
é tão imaginária
quanto D. Quixote
e seus gigantes
de vento
Um indefinível rumor de solidão
desprende da mata
enquanto fecho as janelas

Sonoridade oca de casa vazia

Um rumor de solidão
afeta o silêncio do quarto
denso
gigantesco
ensurdecedor

Azar do coração
que teima em bater sossegado
à tua porta

Azar do solitário coração 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Minhas angústias são idosas
mas não as decifro...

Pois não seria
solução mais inteligente
arremessar bem longe
livro tão incompreensível?

Eis o resumo de um trêmulo sol interior
no verso do papel

Nasceste estrela distante
mistério de prata distante
quando esqueceste de mim
E aqui esse ignorado corpo
tão ardentemente teu

Uma derradeira mancha de tinta
no verso do papel
Como se fosse o tatuado corpo
tão ardentemente teu

terça-feira, 21 de maio de 2013


A noite cai como um toldo
e eu pensaria que morri
não fosse o sax
que derrama um blues pelas cobertas
e esse poema
célula única a respirar



Os luares estão fracos
na noite densa

Mas o pior deles
vem da lua imaginária
que inventei
pelo simples movimento
de tua mãos
Burocrática ternura
que se autodestroe
em 45 minutos

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Como diz Gilnei Lima, na apresentação de seu site:
"Escrever é fotografar idéias"
www.gilneilima.com
Com participação de Polibio Braga, Percival Puggina, Paulo Motta e Dulce Helfer, Gilnei Lima faz uma apresentação opinativa, mas absolutamente jornalística, de fatos atuais. De agora em diante vou estar sempre linkando para o site, logo acima de meu perfil.

Falar sobre
o que não conhecemos
é como dormir
na casa de estranhos


Não me tirem esse resto de ar
Não dificultem
minha capacidade de sobrevivência

Paralisaram meu corpo
emudeceram minha voz
mas não envenenaram
a fonte de raciocínio

Não abram a boca
com vozes de trovão
Pressinto a tempestade no ar

Sou apenas um barco de algodão
navegando de acordo com os ventos


domingo, 19 de maio de 2013


Hoje, além do Motta e do Eduardo, começo a apresentar poemas de meu irmão, que já partiu pra outras searas, mas deixou textos de grande sensibilidade.

De Lauro Aloysio Frantz Filho

SOL & LUA
A luz do sol
saúda-me sorrindo...
A chuva,
sua irmã triste,
fala-me no coração...

De Paulo Motta


Hoje saí na minha cadeira vermelho-Ferrari por volta das 15h e encontrei o portão aberto e resolvi ver o que acontecia lá fora. Sorrateiro, me esgueirei até a calçada e alinhei meu veículo em alta velocidade, até chegar na Berlin e descer pra Farrapos, mas uma enfermeira com um rifle com dardo sonífero, me abateu em plena carreira! O dardo acertou a omoplata e me descontrolei, quase virando minha cadeira turbinada. Acordei há pouco, com o Aécio Neves me dando boa noite e Pedro de Lara pulando com um chocalho ao redor da cama! Meu cérebro capricha numa alucinação. Me recordo da Luiza Erundina me enfiando pílulas goela abaixo e o Juca Chaves me explicando o que é sociologia: "Imaginem, na Segunda Guerra, uma trincheira com americanos de um lado, e do outro uma trincheira com japoneses. Tensos, há dias naquele impasse, de vez em quando uns tiros. Lá pelas tantas um americano grita: "Esse Hiroito é um canalha filhadaputa que não tem o que fazer além de nos complicar a vida!". Os japas, ofendidos e, em nome do Imperador, saltam, furiosos da trincheira e são metralhados pelos americanos, aos montes. Se dando conta do impulso burro que tiveram, os japas resolvem usar o mesmo estratagema, e gritam: "Roosevelt é um cachorro sarnento filho de uma cadela desgraçada!". Em seguida ouvem, da trincheira americana, alguém gritar: "É verdade! Senão não estaríamos aqui!". Isso é Sociologia!". Essa pílula lilás combinada com o dardo está me deixando mais pirado!
Agora, melhor, via o trailer do novo Robocop, dirigido pelo José Padilha, Tropa de Elite. Está muito bom, cara! Daqui a pouco é Dia das Mães, minha mãe está lá em São Borja, chove muito agora. Tenho que agradecer-lhe por ela ter me escolhido pra ser seu filho, ela me comprou numa liquidação em Paso de Los Libres, em 1959, eu era um dos modelos com defeito que estava na liquidação. Era meio esquisitinho, mas não tinha pé chato e já vinha com dois dentes e acessórios opcionais como óculos e uma chupeta de bexiga de ovelha. Essa chupeta me acompanhou até os 9 anos, quando fiz um curso de cinco dias pra deixar a chupeta, com adesivos pelo corpo e chicletes especiais. Hoje em dia as caixas de chupeta vem com fotos dos malefícios de chupar bico e advertância do Ministério da Saúde. Ainda bem. Depois eu retorno, tenho que escovar o dente. É, o dente, mesmo, só tenho um único e garboso molar.


De Eduardo Magrão Menezes
ROSA BEIJADA
Rosa prateada da luz do luar
Rosa roubada pra te conquistar
Rosa colhida com toda paixão 
Rosa plantada em teu coração
Rosa beijada por teu beija-flor
É beijo roubado na menina-flor

sábado, 18 de maio de 2013


A solidão
é uma companheira voraz

Enclausura os corações
de maneira implacável
em celas obscuras


A "CURA" GAY
Sábado, vassoura na mão, ouvindo música bem alta numa praia sem vizinhos nessa época, canta Ana Carolina e penso em falar sobre a qualidade de texto e melodia no meio de tanta bagagem descartável e, de repente, ela começa a cantar a música "E eu que não sei nada de mim", dela e do Vercillo, e escuto versos que entram alma adentro:
"Clara, noite rara, nos levando além da rebentação, já não tenho medo de saber quem somos na escuridão... Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio, não vou esquecer..."
Provavelmente pensado em sua Chiara, um hino de poesia e amor. Minha mente envereda para o tal projeto do Feliciano sobre a "cura" gay. Mas, por favor, onde está a doença em se querer bem alguém do mesmo sexo? Anas que amam Claras, Claras que amam Veras, Veras que amam Marias, Pedros que amam Josés. O afeto, o desejo são parte de uma corrente do bem!!! Mais doença não seria a intolerância? Mais doença não seria a violência? Mais doença não seria a coisificação da mulher? Mais doença não seria a própria homofobia? Homofobia não é simplesmente não entender, é reagir. E como dizem Diana e Mário Corso, psicanalistas, não precisa haver cura para uma simples faceta do desejo e, sim, para a homofobia em si, pois " a fobia é uma forma de sofrimento, na qual alguém fica fixado em algo que lhe produz fascínio e horror" (Zero Hora - 11/05/2013).


Dia impossível 
de reforma no telhado

Na pasta de pensamentos
uma mistura de cimento e voz

Caliça pintando de cinza
o colorido das palavras

sexta-feira, 17 de maio de 2013


Rumo ao infinito...

Poemas nos bolsos
Flores nos olhos
Coração liberto de projeções
e a mente escancarada
a um absoluto senso de justiça
ao inesperado


Arde em mim uma disposição ao novo
ao inusitado
mas que surpresa pode ainda haver no sol

Tudo no dia é um xerox do outro dia

Os mesmos velhos sinais
e o mesmo gosto de sal 
na tatuagem deixada por tua boca

quinta-feira, 16 de maio de 2013


- Esse ano enfim você SEsSENTA -
diz impiedosa minha identidade

E essa cadeira que formosa se apresenta
e conquistei talvez com algum estrago
tomo de assalto por uns bons dez anos
sem nem jantinha antes ou afago

E aqui eu fico e daqui ninguém me ausenta
até que rompa a fita de outros planos

Posso ceder então lugar pra quem mais venha
pois reavivam sonhos quando enfim SE TENTA
olhar pra o lado e ver que as esperanças
passeiam junto a nós feito crianças


Sempre sempre sempre
a mesma meia dúzia de palavras
que de tão minhas e tão iguais
já se tornaram do papel rivais

quarta-feira, 15 de maio de 2013


Quando acordar amanhã
quero voltar a ser espírito...

Não tanto essa coisa humana
e rancorosa
que te esconjura e te suplica
Que te condena em morte aguda
e te acalanta em dor noturna


Ordenaste ao teu coração
cala-te!!!
E ele se calou

Quem sou eu 
a profanar
tamanha obediência

Quem sou eu...

terça-feira, 14 de maio de 2013



Cada minuto que passa
se acumula ao que já passou
Cada momento vivido
se mistura ao momento esquecido

Retalhos costurados no ar...

E na colcha do tempo
a vida é pedaço de pano perdido

segunda-feira, 13 de maio de 2013


De repente, começo a perceber que as pessoas mais inteligentes são as que, pela vida afora, são taxadas de bobas, ou ingênuas, ou loucas de atar. A inteligência visível, aquela que transcende o próprio espaço da pessoa, muitas vezes vem acompanhada de soberba. E a soberba, pasmem meus amigos, é um estado solitário. Por mais aplausos que a acompanhem, a soberba existe onde não existe a mínima visão do outro como igual. E isso é a pior de todas as solidoes.
Porque a inteligência verdadeira é generosa. É uma luz que precisa ser repartida e, se repartida, vai e volta enriquecida com todas as cores por onde passou...


Tem dias assim
Os poemas nascem
com gosto
de pão dormido

domingo, 12 de maio de 2013


Hoje, Dia das Mães, além dos textos comemorativos de Paulo Motta e Eduardo Magrão Menezes, também uma homenagem a minha mãe, com a publicação de um texto que ela escreveu pra mim, poucos dias antes de eu nascer:


De Paulo Motta

Ultimamente, costumo repetir que as minhas mães tem sido a Maria Cristina, a Ana Maria e a Norma, minha mãe de fato. Pela dedicação e desprendimento que vocês tem me proporcionado num momento, digamos, chato da minha vida. Todas elas com responsabilidades de mães. Cristina com o Dudu, Ana Maria com o Lobinho e a Norma comigo, filho único, também. Nesse meu estado de observação que a convalescença me permite, percebi que ser mãe não é estar mãe. Não é somente um estado físico, vai além disso: é um estado espiritual, transcendental, divino. É a arte de dosar a angústia do deixar ir na festa e esperar acordada aquela criatura que nunca chega, com o alívio do retorno. Elas tem uma capacidade inigualável de guardar a discussão ríspida, e diluí-la em potes cristalinos que, depois, vão distribuindo sob forma de afeto e carinho que nem percebemos. Parece que elas já nascem programadas por Deus para nos orientarem. E, olha, é uma árdua tarefa conduzir essas pessoinhas pelo melhor caminho, quase uma guerra, num mundo em que a tevê tem mais credibilidade do que os pais. Que saco a minha mãe! Não deixa eu fazer nada! O Marquinho foi no Bulbo's Dreamin ver o show dos Merdas In Sky e ela não deixou eu ir, porra! Pois é, ela poderia te dizer: "Quando te formar e tiver um emprego e ganhar tua grana, podes ir até à Lua, mas enquanto eu pagar as tuas contas, faça o que mando". Mas, diplomaticamente, ela cala e, com aperto no coração te observa emburrado, num canto do quarto. Mas esses segredos de mãe talvez nunca saibamos, salvo se elas nos contarem. No geral, somos uns ingratos pois elas, como orientadoras do nosso futuro, não podem errar. Nós podemos, porque elas estarão ali pra nos erguer e colocar nos trilhos, novamente. Meu reconhecimento à minha mãe pelo zelo e pelas orientações de certo e errado que conseguiste enfiar na minha cabeça oca, não foi tempo perdido, verdade! Meu carinho a todas as mães do mundo, vocês são, teimosamente, maravilhosas!


De Eduardo Magrão Menezes


MÃE DO CÉU! 
Deus é um só! Para alguns, o Sol!
- Mas... e Deusa? Existe Deusa? 
- E.. Você acha que Deus viveria sem Deusa? Elementar, meu caro Watson... Se Deus é representado pelo Sol, Deusa, por ser do gênero feminino, tem de ser... Mais! Tem que ter... Brilho especial! Ou seria... espacial? Bom, vou tentar te explicar, vejamos: Deusa, criada pela nescessidade que o Deus Sol tinha, de "refletir" seu infinito amor, criou, não uma, mas... uma infinidade de Deusas, que são...? Não caiu a ficha ainda?...Tcham tcham tcham tcham... Óbvio, Deusas são as... ESTRELAS, que refletem o amor do Deus Sol, aos filhos de Deus na terra! 
- Ha tá, espertinho, e, como elas refletem tanto amor e bondade assim? __
- Bom, aí é que eu me refiro: Deusas, tem que ser PERFEITAS! Então, Deus as criou com a capacidade de... Parir!!! 
- Hã? KKKK Estrela parindo? Só me faltava essa!! 
- Claro! Então, como você acha que nasceram as primeiras MÃES da terra? - Hum.. Faz sentido, agora, aquela coisa dos órfãos. 
- Que coisa? Agora quem não entendeu patavinas fui eu! Órfãos?? 
- Sim! Os órfãos não tem mania de olharem o céu à noite? 
- É... agora que você falou... Claro!! Bingo!!! Mães não morrem... Voltam pro céu!!! 
- Nossa, como você sabe das coisas. 
- É! Sei Sim! Mais alguma pergunta? 
- Até que tenho. 
- Tá, manda! 
- Bom, eu queria saber... Céu, tem gênero feminino? 
- Ah... Sei lá... Vai ver... é Célia!



De Norma de Menezes Frantz


QUANDO CHEGARES
Quando chegares, trarás contigo a luz clara das manhãs primaveris. Trarás em teus olhos nesgas azuis do belo mar e teu sorriso será como a luz tênue dos raios de luar. Cantarás para nós a mais bela melodia e encherás da suavidade do perfume das laranjeiras em flor, todos os recantos do nosso lar. Tornarás realidade a grande espera, o suspiro amoroso de nosso coração.
A felicidade crescerá neste pequenino aconchego de nosso lar porque, criança querida, tu és a felicidade mesma feita criança.
Nós e teus irmãos curvar-nos-emos sobre teu berço e em nosso peito a melodia da vida entoará sua canção.
Tu trarás contigo a claridade da manhã, porque antes que chegasses, em dias passados, a noite morou em nosso coração, quando o Senhor cortou de nosso jardim aquela flor que mal nascia.
Trarás, por isso, com tua presença, a claridade da manhã de primavera, depois duma noite de inverno escuro.
Oh! Como gostaria de te ter já em meus braços, para mostrar ao mundo que a felicidade vive sob a forma mimosa das crianças.
Vem, clara manhã de primavera e enche de luz esse lar!...
Cachoeira do Sul, setembro de 1953



sábado, 11 de maio de 2013


Não foram inteiras as palavras
Nem dois por cento
de todos os mistérios

O resto é pura fantasia
O resto são ruídos da noite
que se escuta mas não se vê 
que se imagina mas não se alcança



Na superfície desse louco amor
mora a infância do afeto
Sou vinho brando
a embalar as vozes delicadas
e os silêncios necessários

Mas no cerne
na profundeza incandescente
sou janela escancarada ao temporal
Um brinde de cicuta em copo de cristal

sexta-feira, 10 de maio de 2013


Quando conseguirem violar
minha crença na humanidade
serei como um peixe
roubado do mar


Do lume que aspiraste
sou mísera fagulha

Uma gota no Pacífico
um grão de areia no Saara
alguém na infinitude do universo
um sussurro
um farfalhar de folhas

Mas no diminuto instante em que te vejo
sou a gota que transborda
ou a súbita fagulha que incendeia

quinta-feira, 9 de maio de 2013

quarta-feira, 8 de maio de 2013


Certas mentiras
tem pernas compridas 
porque se mantém acima
de todos os males

Dessas eu tenho medo
pois se fantasiam
de verdades inquestionáveis 


Queria que visses de novo
a luz do luar

Uma vez só a cor do luar
como despedida

Pode ser aqui
nesse confim onde exilei o sentimento

Uma vez só
e eu partiria contigo
no raio da lua
Sem um remorso sequer
sem um remorso 

segunda-feira, 6 de maio de 2013


Como um funcionário
o sol enfim bate o ponto
depois de dias acamado 


Te digo quem sou
quando desencantar
algum de teus mistérios

A troca é justa
mesmo que tu sejas mil
Mesmo que a aventura de viver
tenha te dotado de mil faces

Só quero uma
Aquela que deposita na pele
a sensação de eternidade

domingo, 5 de maio de 2013

De Paulo Motta


Minha cabecinha sempre faz confusão com um monte de coisas que guardo dentro dela. Vou recebendo informações e jogando ali dentro pra separar depois o que presta e o que não presta. Mas cadê tempo pra organizar? Agora que estou meio à bangu, dou uma subida no sótão pra remexer na bagunça e encontro cada coisa! Achei, ontem, no canto escuro de um quarto de milha, pilhas de promessas antigas, artesanais, uma mais linda que a outra. Umas novas, outras mais velhas, todas já vencidas e sem uso. Algumas lembrei, a maior parte, não. Quase ao lado, tropeço num enorme caixote de tilápias cheio de desculpas, minhas e de um monte de espertinhas. Algumas esfarrapadas, a maior parte bem convincentes. Uma delas, em estado de nova tem a seguinte inscrição bordada: "Vou na padaria e já volto!". Melhor jogar no lixo. A prateleira cascuda encostada na parede está cheia de mentiras bobas e mal-intencionadas. A maior parte com pernas curtas, as minhas muito grandes. Quando manuseei uma delas, chegou a dizer "Te amo!". E eu quase acreditei, rapaiz! Achei, sobre a mesinha de eucalipto um exemplar do Capital dos Pampas, de Irton Marx, ou seria do Karl Marx. Ah, não, esse é só O Capital. Não tenho nada do genial revolucionário Groucho Marx. Desisto, daqui a pouco vou encontrar esqueletos nos meus armários. Aí eles vão sair do armário, não é uma boa idéia. Boa noite, amiguinhos e amiguinhas.

De Eduardo Magrao Menezes


AMOR GAÚCHO
Manhã gélida
Sol nasce grande
Vermelho fogo
Acordando o outono

Quero-quero anuncia
Da coxilha pampeana
Que chega o gaudério
No pingo tubiano

Chapéu tapeado
Palheiro fumando
Avisa que o inverno
Tá quase chegando

Na velha tapera
Chinoca faceira
Faz fogo em lareira
À espera do amor

No quarto do fundo
O vaso, a flor...
Pelego vermelho
Ninho de amor

Assim...
No rancho picumã
O amor se fez presente
E a noite virou manhã!



sábado, 4 de maio de 2013



Não me leva pro fundo do mar

Não quero morrer na imensidão azul 
dessas promessas
e nada sei de tais sereias
que tenham permitido a paz

Não me leva pro fundo do mar

Sufocar tão longe
de meus troncos
é como sufocar mais vezes
do que as vezes que por ti já sufoquei

Não me leva pro fundo do mar

Se devo morrer
se mesmo assim eu devo me afogar
que seja então numa bacia 

sexta-feira, 3 de maio de 2013


As margens do papel
são como a caixa dois
de idéias intrometidas


No ônibus
a caminho de casa
cinqüenta indivíduos sacolejantes
se embaralham sonolentos
em suas ondas cerebrais

Como é estranho 
esse cenário de mil ilhas
ser chamado
de transporte coletivo...

quinta-feira, 2 de maio de 2013


Um dia sim
outro também
e o terceiro mais ainda
Não passa um dia 
sem que eu te desenhe
em dor infinda

Rimou 
e isso é muito bom 
porque o poema pode ser consolo

E se com todos os delírios que escrevi
não te confessas minha
pobre de ti
teu coração é tolo


Ressurgir
de nossas pequenas mortes
é como lavar a louça
e guardar de novo
no armário 

quarta-feira, 1 de maio de 2013


Hoje nosso blog completa um mês. Quase 1.300 acessos e outras tantas palavras de incentivo que enchem meu coração de luzes. Por isso, nessa edição comemorativa, vou começar uma coluna semanal com textos de outros escritores, chamada ROUBANDO PÉROLAS, desta vez com um texto de cada um de meus colaboradores já contratados, que depois irão se alternando a cada domingo.

Apresento, aqui, Eduardo Machado de Menezes, meu primo querido, poeta de grande sensibilidade, com doses exatas de humor e lirismo, e Paulo Motta, amigo-irmão, que me acompanha desde pouco mais que a adolescência e que, enquanto convalesce de alguns probleminhas técnicos, nos tem brindado com crônicas inteligentes e dotadas de um humor irônico inigualável.
Ah, já ia esquecendo de dizer que, com essas duas pérolas, chegamos a 100 postagens!
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De Eduardo Magrão Menezes
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LUZ VERMELHA
Quarta, levei um cliente assíduo do táxi numa casa de "muié que sesteia pra fora" e fiquei no carro digitando isso no celular:

Estrela da noite,

Do céu estrelado
Noite de outono,
Vento gelado

Chego na casa,

Casa da noite
Encontro a dama,
Que a vida esculpiu!

Peço cerveja

Ela martini
olho seu corpo
Seu manequim
Doce vitrine
Sorrindo pra mim!

Penso pecado

Olho nos olhos
Colho o recado...
Noite de amor!

Danço vanera

Música lenta
Cincho teu corpo
Isso me esquenta!

Peço a chave

Olho pra moça
Chamo pra noite...
A estrela do amor!

É amor safado...

Prazer comprado!
Doce ilusão...
Da alma carente,
Do peão descornado,
Querendo paixão!

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De Paulo Motta
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Pra um elemento como eu, convalescendo de cirurgia e esperando mais outra, virado num micropore tamanho família, só faltou mudança de sexo, o resto tudo foi feito. O bom da tecnologia é que tu estraga e os caras te consertam, uma maravilha! Como disse, pra um elemento como eu, livros, gibis e TV são importantes. Muito. Tenho descoberto coisas na TV que nunca imaginei que existissem, pensei até que o Walter Mercado tivesse ressuscitado na telinha mas era a Marta Suplicio falando do seu (dela, nosso) vale-cultura. Me encanto vendo e ouvindo pastores tipo o Malafaia que dão show de retórica e persuasão. Esses caras vendem ovo pra galinha, são notáveis no discurso, muito competentes. A fala e os gestos são sincronizados, tudo perfeito, tenho que tirar o chapéu pros caras. Quando encho o saco pego a Mafalda ou o Lobo Solitário, Kazuo Koike, Gojima, Calvin ou o velho imperialista capitalista rabugento Pato Donald. Hoje a enfermeira-chefe me deu uma putiada porque pedi pra auxiliar de enfermagem correr comigo na cadeira de rodas e eu me senti Al Pacino na Ferrari em Perfume de Mulher, rararararara!


A poesia é a transfusão 
do que se tem
com tudo aquilo
que no fundo se imagina