A solidão anda descalça para que não se a perceba Anda a pé e traz no silêncio tudo aquilo que necessitamos aprender dos desencontros A irresponsabilidade de se pensar no plural no coletivo nos distrai da dolorosa realidade Todos irremediavelmente somos unos
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Quando vejo o chão que tu pisaste recordo tuas pegadas em profunda comunhão É sempre assim Teus lábios de cetim também guardados A voz em derradeira comunhão E os olhos os olhos desnudados É sempre assim Teu sorriso abrindo eco em mim e a ilusão de ser feliz como uma fada É sempre assim Repito amor amor amor e em tão feliz visão entrecortada tomo-te o corpo como eu sempre quis
terça-feira, 28 de maio de 2013
É muito muito mais difícil
o senso de justiça
em relação
aos nossos próprios pecados
Todas as coisas um dia retornam mas sempre se repetem num instante novo Como uma onda no meio de um mar revolto que vai e volta num lugar diferente de onde saiu
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Tomara que me concedas muitas manhãs pacificadas como essa O absoluto apaziguamento dos sentidos... Apenas isso e essa viagem terá valido a pena
domingo, 26 de maio de 2013
De Eduardo Magrão Menezes
BORBOLETA Não haverá como esquecê-la... Onde houver borboletas, lá você estará, Lembrando-me que me fez voar. E minha alma voará até a borboleta.... Tentando te reencontrar! De Paulo Motta Estava recordando as história infantis da minha época, que estão banidas da vida das crianças de hoje, pois são politicamente incorretas. Ali Babá e os 40 ladrões, por exemplo, é uma história hedionda, de roubo e traição - nada que não se veja na novela das nove - e culmina com a escrava de Ali Babá, Morgana, matando os 40 ladrões, derramando óleo fervente nos potes de barro onde estavam escondidos. E Ali Babá tinha uma escrava! João e Maria nem se fala! Os pais saem com as crianças para a floresta, com a intenção de extraviá-las no mato, pois não tinham o que comer. O Gato de Botas é um competente estelionatário, que mente pra seu dono se dar bem. E ele se dá. O Pequeno Polegar sofre bullyng dos irmãos por ser baixinho. Chapeuzinho Vermelho é explorada pelos pais, que mandam levar remédios e comida pra vovó, no meio da floresta. Que filhos deixam uma velha sozinha e doente no meio do mato, onde tem um lobo à solta? E idiota, pois não consegue ver diferença entre a vovó e o lobo de óculos e touca. Hoje, se fossemos contar essas fábulas, seriam readaptadas. Os pais de João e Maria receberiam Bolsa Família e não precisariam se desfazer das crianças. O Pequeno Polegar seria encaminhado para um Programa de Inclusão Social, que o realocaria ao mercado de trabalho. Os caçadores que matam o lobo seriam presos por abater animal silvestre, e Chapeuzinho vai parar no Conselho Tutelar. Ali Babá seria preso por manter trabalho escravo em casa, e Morgana é processada por eliminar 40 cidadãos de forma cruel. Responderá o processo em liberdade, pois tem residência fixa e não tem antecedentes. Viu como até pra contar uma historinha tu corre o risco de ser enquadrado? Buenas Noches, tigrada!
sábado, 25 de maio de 2013
Melhor permanecer calada... São os pássaros que conduzem a conversa em efervescentes cerimônias matinais.
Se me fosse permitido caminhar sobre as águas estaria mais perto de ti Na outra margem moram os sonhos entre muros de aço e ensurdecedores sons na contramão Se me fosse permitido caminhar sobre as águas escalaria teus sonhos em busca de janelas como meus olhos escalam coqueiros em busca do sol Mas se a ti fosse permitido caminhar sobre as águas certamente nascerias de novo paredes de flor e murmúrios de vento nesse milagre de apenas brindar o dia que começa e a noite que termina
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Não fugir de nossas imagens farpadas é tão milagroso quanto ler um livro Ambos colocam nossos méritos na devida proporção e enriquecem irremediavelmente nossas escolhas
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Como existem armadilhas contra a satisfação Algumas bem concretas Mas a esmagadora maioria é tão imaginária quanto D. Quixote e seus gigantes de vento
Um indefinível rumor de solidão desprende da mata enquanto fecho as janelas Sonoridade oca de casa vazia Um rumor de solidão afeta o silêncio do quarto denso gigantesco ensurdecedor Azar do coração que teima em bater sossegado à tua porta Azar do solitário coração
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Minhas angústias são idosas mas não as decifro... Pois não seria solução mais inteligente arremessar bem longe livro tão incompreensível?
Eis o resumo de um trêmulo sol interior no verso do papel Nasceste estrela distante mistério de prata distante quando esqueceste de mim E aqui esse ignorado corpo tão ardentemente teu Uma derradeira mancha de tinta no verso do papel Como se fosse o tatuado corpo tão ardentemente teu
terça-feira, 21 de maio de 2013
A noite cai como um toldo
e eu pensaria que morri
não fosse o sax
que derrama um blues pelas cobertas
e esse poema
célula única a respirar
Os luares estão fracos na noite densa Mas o pior deles vem da lua imaginária que inventei pelo simples movimento de tua mãos Burocrática ternura que se autodestroe em 45 minutos
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Como diz Gilnei Lima, na apresentação de seu site: "Escrever é fotografar idéias" www.gilneilima.com
Com participação de Polibio Braga, Percival Puggina, Paulo Motta e Dulce Helfer, Gilnei Lima faz uma apresentação opinativa, mas absolutamente jornalística, de fatos atuais. De agora em diante vou estar sempre linkando para o site, logo acima de meu perfil.
Falar sobre
o que não conhecemos
é como dormir
na casa de estranhos
Não me tirem esse resto de ar
Não dificultem
minha capacidade de sobrevivência
Paralisaram meu corpo
emudeceram minha voz
mas não envenenaram
a fonte de raciocínio
Não abram a boca
com vozes de trovão
Pressinto a tempestade no ar
Sou apenas um barco de algodão
navegando de acordo com os ventos
domingo, 19 de maio de 2013
Hoje, além do Motta e do Eduardo, começo a apresentar poemas de meu irmão, que já partiu pra outras searas, mas deixou textos de grande sensibilidade. De Lauro Aloysio Frantz Filho SOL & LUA A luz do sol saúda-me sorrindo... A chuva, sua irmã triste, fala-me no coração... De Paulo Motta
Hoje saí na minha cadeira vermelho-Ferrari por volta das 15h e encontrei o portão aberto e resolvi ver o que acontecia lá fora. Sorrateiro, me esgueirei até a calçada e alinhei meu veículo em alta velocidade, até chegar na Berlin e descer pra Farrapos, mas uma enfermeira com um rifle com dardo sonífero, me abateu em plena carreira! O dardo acertou a omoplata e me descontrolei, quase virando minha cadeira turbinada. Acordei há pouco, com o Aécio Neves me dando boa noite e Pedro de Lara pulando com um chocalho ao redor da cama! Meu cérebro capricha numa alucinação. Me recordo da Luiza Erundina me enfiando pílulas goela abaixo e o Juca Chaves me explicando o que é sociologia: "Imaginem, na Segunda Guerra, uma trincheira com americanos de um lado, e do outro uma trincheira com japoneses. Tensos, há dias naquele impasse, de vez em quando uns tiros. Lá pelas tantas um americano grita: "Esse Hiroito é um canalha filhadaputa que não tem o que fazer além de nos complicar a vida!". Os japas, ofendidos e, em nome do Imperador, saltam, furiosos da trincheira e são metralhados pelos americanos, aos montes. Se dando conta do impulso burro que tiveram, os japas resolvem usar o mesmo estratagema, e gritam: "Roosevelt é um cachorro sarnento filho de uma cadela desgraçada!". Em seguida ouvem, da trincheira americana, alguém gritar: "É verdade! Senão não estaríamos aqui!". Isso é Sociologia!". Essa pílula lilás combinada com o dardo está me deixando mais pirado! Agora, melhor, via o trailer do novo Robocop, dirigido pelo José Padilha, Tropa de Elite. Está muito bom, cara! Daqui a pouco é Dia das Mães, minha mãe está lá em São Borja, chove muito agora. Tenho que agradecer-lhe por ela ter me escolhido pra ser seu filho, ela me comprou numa liquidação em Paso de Los Libres, em 1959, eu era um dos modelos com defeito que estava na liquidação. Era meio esquisitinho, mas não tinha pé chato e já vinha com dois dentes e acessórios opcionais como óculos e uma chupeta de bexiga de ovelha. Essa chupeta me acompanhou até os 9 anos, quando fiz um curso de cinco dias pra deixar a chupeta, com adesivos pelo corpo e chicletes especiais. Hoje em dia as caixas de chupeta vem com fotos dos malefícios de chupar bico e advertância do Ministério da Saúde. Ainda bem. Depois eu retorno, tenho que escovar o dente. É, o dente, mesmo, só tenho um único e garboso molar.
De Eduardo Magrão Menezes
ROSA BEIJADA
Rosa prateada da luz do luar
Rosa roubada pra te conquistar
Rosa colhida com toda paixão
Rosa plantada em teu coração
Rosa beijada por teu beija-flor
É beijo roubado na menina-flor
sábado, 18 de maio de 2013
A solidão é uma companheira voraz Enclausura os corações de maneira implacável em celas obscuras
A "CURA" GAY Sábado, vassoura na mão, ouvindo música bem alta numa praia sem vizinhos nessa época, canta Ana Carolina e penso em falar sobre a qualidade de texto e melodia no meio de tanta bagagem descartável e, de repente, ela começa a cantar a música "E eu que não sei nada de mim", dela e do Vercillo, e escuto versos que entram alma adentro: "Clara, noite rara, nos levando além da rebentação, já não tenho medo de saber quem somos na escuridão... Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio, não vou esquecer..." Provavelmente pensado em sua Chiara, um hino de poesia e amor. Minha mente envereda para o tal projeto do Feliciano sobre a "cura" gay. Mas, por favor, onde está a doença em se querer bem alguém do mesmo sexo? Anas que amam Claras, Claras que amam Veras, Veras que amam Marias, Pedros que amam Josés. O afeto, o desejo são parte de uma corrente do bem!!! Mais doença não seria a intolerância? Mais doença não seria a violência? Mais doença não seria a coisificação da mulher? Mais doença não seria a própria homofobia? Homofobia não é simplesmente não entender, é reagir. E como dizem Diana e Mário Corso, psicanalistas, não precisa haver cura para uma simples faceta do desejo e, sim, para a homofobia em si, pois " a fobia é uma forma de sofrimento, na qual alguém fica fixado em algo que lhe produz fascínio e horror" (Zero Hora - 11/05/2013).
Dia impossível
de reforma no telhado
Na pasta de pensamentos
uma mistura de cimento e voz
Caliça pintando de cinza
o colorido das palavras
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Rumo ao infinito... Poemas nos bolsos Flores nos olhos Coração liberto de projeções e a mente escancarada a um absoluto senso de justiça ao inesperado
Arde em mim uma disposição ao novo ao inusitado mas que surpresa pode ainda haver no sol Tudo no dia é um xerox do outro dia Os mesmos velhos sinais e o mesmo gosto de sal na tatuagem deixada por tua boca
quinta-feira, 16 de maio de 2013
- Esse ano enfim você SEsSENTA - diz impiedosa minha identidade E essa cadeira que formosa se apresenta e conquistei talvez com algum estrago tomo de assalto por uns bons dez anos sem nem jantinha antes ou afago E aqui eu fico e daqui ninguém me ausenta até que rompa a fita de outros planos Posso ceder então lugar pra quem mais venha pois reavivam sonhos quando enfim SE TENTA olhar pra o lado e ver que as esperanças passeiam junto a nós feito crianças
Sempre sempre sempre
a mesma meia dúzia de palavras
que de tão minhas e tão iguais
já se tornaram do papel rivais
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Quando acordar amanhã quero voltar a ser espírito... Não tanto essa coisa humana e rancorosa que te esconjura e te suplica Que te condena em morte aguda e te acalanta em dor noturna
Ordenaste ao teu coração cala-te!!! E ele se calou Quem sou eu a profanar tamanha obediência Quem sou eu...
terça-feira, 14 de maio de 2013
Cada minuto que passa se acumula ao que já passou Cada momento vivido se mistura ao momento esquecido Retalhos costurados no ar... E na colcha do tempo a vida é pedaço de pano perdido
segunda-feira, 13 de maio de 2013
De repente, começo a perceber que as pessoas mais inteligentes são as que, pela vida afora, são taxadas de bobas, ou ingênuas, ou loucas de atar. A inteligência visível, aquela que transcende o próprio espaço da pessoa, muitas vezes vem acompanhada de soberba. E a soberba, pasmem meus amigos, é um estado solitário. Por mais aplausos que a acompanhem, a soberba existe onde não existe a mínima visão do outro como igual. E isso é a pior de todas as solidoes. Porque a inteligência verdadeira é generosa. É uma luz que precisa ser repartida e, se repartida, vai e volta enriquecida com todas as cores por onde passou...
Tem dias assim Os poemas nascem com gosto de pão dormido
domingo, 12 de maio de 2013
Hoje, Dia das Mães, além dos textos comemorativos de Paulo Motta e Eduardo Magrão Menezes, também uma homenagem a minha mãe, com a publicação de um texto que ela escreveu pra mim, poucos dias antes de eu nascer:
De Paulo Motta Ultimamente, costumo repetir que as minhas mães tem sido a Maria Cristina, a Ana Maria e a Norma, minha mãe de fato. Pela dedicação e desprendimento que vocês tem me proporcionado num momento, digamos, chato da minha vida. Todas elas com responsabilidades de mães. Cristina com o Dudu, Ana Maria com o Lobinho e a Norma comigo, filho único, também. Nesse meu estado de observação que a convalescença me permite, percebi que ser mãe não é estar mãe. Não é somente um estado físico, vai além disso: é um estado espiritual, transcendental, divino. É a arte de dosar a angústia do deixar ir na festa e esperar acordada aquela criatura que nunca chega, com o alívio do retorno. Elas tem uma capacidade inigualável de guardar a discussão ríspida, e diluí-la em potes cristalinos que, depois, vão distribuindo sob forma de afeto e carinho que nem percebemos. Parece que elas já nascem programadas por Deus para nos orientarem. E, olha, é uma árdua tarefa conduzir essas pessoinhas pelo melhor caminho, quase uma guerra, num mundo em que a tevê tem mais credibilidade do que os pais. Que saco a minha mãe! Não deixa eu fazer nada! O Marquinho foi no Bulbo's Dreamin ver o show dos Merdas In Sky e ela não deixou eu ir, porra! Pois é, ela poderia te dizer: "Quando te formar e tiver um emprego e ganhar tua grana, podes ir até à Lua, mas enquanto eu pagar as tuas contas, faça o que mando". Mas, diplomaticamente, ela cala e, com aperto no coração te observa emburrado, num canto do quarto. Mas esses segredos de mãe talvez nunca saibamos, salvo se elas nos contarem. No geral, somos uns ingratos pois elas, como orientadoras do nosso futuro, não podem errar. Nós podemos, porque elas estarão ali pra nos erguer e colocar nos trilhos, novamente. Meu reconhecimento à minha mãe pelo zelo e pelas orientações de certo e errado que conseguiste enfiar na minha cabeça oca, não foi tempo perdido, verdade! Meu carinho a todas as mães do mundo, vocês são, teimosamente, maravilhosas!
De Eduardo Magrão Menezes
MÃE DO CÉU! Deus é um só! Para alguns, o Sol! - Mas... e Deusa? Existe Deusa? - E.. Você acha que Deus viveria sem Deusa? Elementar, meu caro Watson... Se Deus é representado pelo Sol, Deusa, por ser do gênero feminino, tem de ser... Mais! Tem que ter... Brilho especial! Ou seria... espacial? Bom, vou tentar te explicar, vejamos: Deusa, criada pela nescessidade que o Deus Sol tinha, de "refletir" seu infinito amor, criou, não uma, mas... uma infinidade de Deusas, que são...? Não caiu a ficha ainda?...Tcham tcham tcham tcham... Óbvio, Deusas são as... ESTRELAS, que refletem o amor do Deus Sol, aos filhos de Deus na terra! - Ha tá, espertinho, e, como elas refletem tanto amor e bondade assim? __ - Bom, aí é que eu me refiro: Deusas, tem que ser PERFEITAS! Então, Deus as criou com a capacidade de... Parir!!! - Hã? KKKK Estrela parindo? Só me faltava essa!! - Claro! Então, como você acha que nasceram as primeiras MÃES da terra? - Hum.. Faz sentido, agora, aquela coisa dos órfãos. - Que coisa? Agora quem não entendeu patavinas fui eu! Órfãos?? - Sim! Os órfãos não tem mania de olharem o céu à noite? - É... agora que você falou... Claro!! Bingo!!! Mães não morrem... Voltam pro céu!!! - Nossa, como você sabe das coisas. - É! Sei Sim! Mais alguma pergunta? - Até que tenho. - Tá, manda! - Bom, eu queria saber... Céu, tem gênero feminino? - Ah... Sei lá... Vai ver... é Célia!
De Norma de Menezes Frantz
QUANDO CHEGARES Quando chegares, trarás contigo a luz clara das manhãs primaveris. Trarás em teus olhos nesgas azuis do belo mar e teu sorriso será como a luz tênue dos raios de luar. Cantarás para nós a mais bela melodia e encherás da suavidade do perfume das laranjeiras em flor, todos os recantos do nosso lar. Tornarás realidade a grande espera, o suspiro amoroso de nosso coração. A felicidade crescerá neste pequenino aconchego de nosso lar porque, criança querida, tu és a felicidade mesma feita criança. Nós e teus irmãos curvar-nos-emos sobre teu berço e em nosso peito a melodia da vida entoará sua canção. Tu trarás contigo a claridade da manhã, porque antes que chegasses, em dias passados, a noite morou em nosso coração, quando o Senhor cortou de nosso jardim aquela flor que mal nascia. Trarás, por isso, com tua presença, a claridade da manhã de primavera, depois duma noite de inverno escuro. Oh! Como gostaria de te ter já em meus braços, para mostrar ao mundo que a felicidade vive sob a forma mimosa das crianças. Vem, clara manhã de primavera e enche de luz esse lar!... Cachoeira do Sul, setembro de 1953
sábado, 11 de maio de 2013
Não foram inteiras as palavras Nem dois por cento de todos os mistérios O resto é pura fantasia O resto são ruídos da noite que se escuta mas não se vê que se imagina mas não se alcança
Na superfície desse louco amor mora a infância do afeto Sou vinho brando a embalar as vozes delicadas e os silêncios necessários Mas no cerne na profundeza incandescente sou janela escancarada ao temporal Um brinde de cicuta em copo de cristal
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Quando conseguirem violar
minha crença na humanidade
serei como um peixe
roubado do mar
Do lume que aspiraste sou mísera fagulha Uma gota no Pacífico um grão de areia no Saara alguém na infinitude do universo um sussurro um farfalhar de folhas Mas no diminuto instante em que te vejo sou a gota que transborda ou a súbita fagulha que incendeia
quinta-feira, 9 de maio de 2013
O medo é o inimigo mais poderoso que eu conheço Rompe inesperado obscurecendo os sentidos e desmontando planos com a facilidade de uma faca entrando no mel
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Certas mentiras tem pernas compridas porque se mantém acima de todos os males Dessas eu tenho medo pois se fantasiam de verdades inquestionáveis
Queria que visses de novo a luz do luar Uma vez só a cor do luar como despedida Pode ser aqui nesse confim onde exilei o sentimento Uma vez só e eu partiria contigo no raio da lua Sem um remorso sequer sem um remorso
terça-feira, 7 de maio de 2013
Protegi o afeto como ostra Mas quem diria a concha era de papelão...
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Como um funcionário
o sol enfim bate o ponto
depois de dias acamado
Te digo quem sou quando desencantar algum de teus mistérios A troca é justa mesmo que tu sejas mil Mesmo que a aventura de viver tenha te dotado de mil faces Só quero uma Aquela que deposita na pele a sensação de eternidade
domingo, 5 de maio de 2013
De Paulo Motta Minha cabecinha sempre faz confusão com um monte de coisas que guardo dentro dela. Vou recebendo informações e jogando ali dentro pra separar depois o que presta e o que não presta. Mas cadê tempo pra organizar? Agora que estou meio à bangu, dou uma subida no sótão pra remexer na bagunça e encontro cada coisa! Achei, ontem, no canto escuro de um quarto de milha, pilhas de promessas antigas, artesanais, uma mais linda que a outra. Umas novas, outras mais velhas, todas já vencidas e sem uso. Algumas lembrei, a maior parte, não. Quase ao lado, tropeço num enorme caixote de tilápias cheio de desculpas, minhas e de um monte de espertinhas. Algumas esfarrapadas, a maior parte bem convincentes. Uma delas, em estado de nova tem a seguinte inscrição bordada: "Vou na padaria e já volto!". Melhor jogar no lixo. A prateleira cascuda encostada na parede está cheia de mentiras bobas e mal-intencionadas. A maior parte com pernas curtas, as minhas muito grandes. Quando manuseei uma delas, chegou a dizer "Te amo!". E eu quase acreditei, rapaiz! Achei, sobre a mesinha de eucalipto um exemplar do Capital dos Pampas, de Irton Marx, ou seria do Karl Marx. Ah, não, esse é só O Capital. Não tenho nada do genial revolucionário Groucho Marx. Desisto, daqui a pouco vou encontrar esqueletos nos meus armários. Aí eles vão sair do armário, não é uma boa idéia. Boa noite, amiguinhos e amiguinhas. De Eduardo Magrao Menezes
AMOR GAÚCHO
Manhã gélida Sol nasce grande Vermelho fogo Acordando o outono Quero-quero anuncia Da coxilha pampeana Que chega o gaudério No pingo tubiano Chapéu tapeado Palheiro fumando Avisa que o inverno Tá quase chegando Na velha tapera Chinoca faceira Faz fogo em lareira À espera do amor No quarto do fundo O vaso, a flor... Pelego vermelho Ninho de amor Assim... No rancho picumã O amor se fez presente E a noite virou manhã!
sábado, 4 de maio de 2013
Não me leva pro fundo do mar Não quero morrer na imensidão azul dessas promessas e nada sei de tais sereias que tenham permitido a paz Não me leva pro fundo do mar Sufocar tão longe de meus troncos é como sufocar mais vezes do que as vezes que por ti já sufoquei Não me leva pro fundo do mar Se devo morrer se mesmo assim eu devo me afogar que seja então numa bacia
sexta-feira, 3 de maio de 2013
As margens do papel
são como a caixa dois
de idéias intrometidas
No ônibus a caminho de casa cinqüenta indivíduos sacolejantes se embaralham sonolentos em suas ondas cerebrais Como é estranho esse cenário de mil ilhas ser chamado de transporte coletivo...
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Um dia sim outro também e o terceiro mais ainda Não passa um dia sem que eu te desenhe em dor infinda Rimou e isso é muito bom porque o poema pode ser consolo E se com todos os delírios que escrevi não te confessas minha pobre de ti teu coração é tolo
Ressurgir de nossas pequenas mortes é como lavar a louça e guardar de novo no armário
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Hoje nosso blog completa um mês. Quase 1.300 acessos e outras tantas palavras de incentivo que enchem meu coração de luzes. Por isso, nessa edição comemorativa, vou começar uma coluna semanal com textos de outros escritores, chamada ROUBANDO PÉROLAS, desta vez com um texto de cada um de meus colaboradores já contratados, que depois irão se alternando a cada domingo. Apresento, aqui, Eduardo Machado de Menezes, meu primo querido, poeta de grande sensibilidade, com doses exatas de humor e lirismo, e Paulo Motta, amigo-irmão, que me acompanha desde pouco mais que a adolescência e que, enquanto convalesce de alguns probleminhas técnicos, nos tem brindado com crônicas inteligentes e dotadas de um humor irônico inigualável. Ah, já ia esquecendo de dizer que, com essas duas pérolas, chegamos a 100 postagens! ..................................................... De Eduardo Magrão Menezes ................................. LUZ VERMELHA Quarta, levei um cliente assíduo do táxi numa casa de "muié que sesteia pra fora" e fiquei no carro digitando isso no celular: Estrela da noite, Do céu estrelado Noite de outono, Vento gelado Chego na casa, Casa da noite Encontro a dama, Que a vida esculpiu! Peço cerveja Ela martini olho seu corpo Seu manequim Doce vitrine Sorrindo pra mim! Penso pecado Olho nos olhos Colho o recado... Noite de amor! Danço vanera Música lenta Cincho teu corpo Isso me esquenta! Peço a chave Olho pra moça Chamo pra noite... A estrela do amor! É amor safado... Prazer comprado! Doce ilusão... Da alma carente, Do peão descornado, Querendo paixão! ............................ De Paulo Motta ............................ Pra um elemento como eu, convalescendo de cirurgia e esperando mais outra, virado num micropore tamanho família, só faltou mudança de sexo, o resto tudo foi feito. O bom da tecnologia é que tu estraga e os caras te consertam, uma maravilha! Como disse, pra um elemento como eu, livros, gibis e TV são importantes. Muito. Tenho descoberto coisas na TV que nunca imaginei que existissem, pensei até que o Walter Mercado tivesse ressuscitado na telinha mas era a Marta Suplicio falando do seu (dela, nosso) vale-cultura. Me encanto vendo e ouvindo pastores tipo o Malafaia que dão show de retórica e persuasão. Esses caras vendem ovo pra galinha, são notáveis no discurso, muito competentes. A fala e os gestos são sincronizados, tudo perfeito, tenho que tirar o chapéu pros caras. Quando encho o saco pego a Mafalda ou o Lobo Solitário, Kazuo Koike, Gojima, Calvin ou o velho imperialista capitalista rabugento Pato Donald. Hoje a enfermeira-chefe me deu uma putiada porque pedi pra auxiliar de enfermagem correr comigo na cadeira de rodas e eu me senti Al Pacino na Ferrari em Perfume de Mulher, rararararara!