quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O UNIVERSO
Quando eu tinha 14 anos, meu primeiro amor adolescente me tirou pra dançar. Era apaixonada desde os 12 e ele mal me olhava. Lindo como um apolo, foi o sonho efervescente de todas as garotas de minha época. Mas os hormônios trouxeram, junto com as faces profundas do amor, os muitos quilos a mais que minha infância havia economizado. E, enquanto engordava, afastava o amor como se tivesse um vírus contagioso. Adolescentes grudavam os olhos em belas estampas e, invariavelmente, ser feliz estava ligado apenas ao que brilhava.
O amor aos doze anos é exigente e logo comecei a correr atrás de sua atenção. Era irmão de uma amiga e logo passei a visitá-la com a assiduidade de um funcionário-padrão. Pobre coração sem noção! Eu achava que ele era meu cais, meu caminho seguro construído em mundos imaginários. Mandava recados e recados e não voltavam as letras construídas em resposta. Até que alguém me contou que ele havia declarado alto e bom tom, que "nunca teria nada com aquela bolacha!".
Foi um caos interior, muito pouco compreendido, mas a inocência não via tempo para as sombras, preferindo ocupar seus dias em brincadeiras remanescentes e passeios coquetes pela praça da cidade, onde os garotos ficavam parados em bando, esperando nosso desfile. 
Enquanto eu crescia, o corpo tomava conta de suas curvas e os olhos masculinos, antes tão arredios, agora já me visitavam com o vagar de um inquilino.
Mas o amor continuava acenando de longe, até o dia em que ele me tirou pra dançar. Foi uma música, só uma - My Way -, mas durou os dois anos de espera. Por aqueles 5 minutos vivi o universo dentro do peito. Por aqueles 5 minutos as fadas do bem voaram de mãos dadas com as notas da canção imortalizada por Frank Sinatra. Depois de muito tempo a música terminou e nos separamos, ficando para sempre, em meu coração, o calor do seu corpo.
Se ficamos juntos? Claro que não! Eu já havia vivido uma vida inteira de sensações naquela pista de dança e ter conquistado seu corpo melodiosamente colado ao meu mostrou-me a magia da auto-estima e o universo, com sua gama muito maior de possibilidades, abriu seus braços à minha trajetória.

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