terça-feira, 20 de agosto de 2013

O SEU LÉO
Minha infância em Cachoeira ou em Arroio Teixeira, onde passávamos as férias, é povoada de feitos improváveis. Meu pai, um erudito, professor de Latim e Português, era extremamente distraído e eu, dada a "surtos" de imaginação, protagonizamos algumas histórias hilárias. Junto a meus três irmãos, um pouco mais velhos, e a Dida, nossa tia e mãe adotiva após a morte precoce de nossa mãe, Norma, éramos um familião - pelo menos era o que me parecia e vivíamos, como todos os vizinhos da década de 50, 60, esperando a televisão milagrosa, cheia de homenzinhos minúsculos, que se movimentavam como nós, apesar de tão pequenos e serem em preto e branco. Na frente das primeiras TVs, me ocorre agora, se colocava um celofane, com listras coloridas, pra dar mais sensação de realidade. Pois antes desse milagre, tínhamos algumas aventuras que, em dias previamente marcados, eram partilhadas por toda essa alegre família: os piqueniques à beira do rio, o dia quase raro em que a janta era "café", em vez de comida, com queijo e presunto, tão caros naquela época. As idas pra praia, que duravam o dia inteiro, e as peripécias daqueles dois meses, são um capítulo à parte.
Mas o que eu mais gostava daquela época eram os passeios à noite (e se podia fazer isso), depois da janta, passeios que atravessavam a cidade até o "Alto" - parte da cidade mais distante do rio e bem mais alta, claro. O passeio terminava, invariavelmente, na sorveteria do Seu Léo, onde comíamos um sorvete maravilhoso, também meio raro naquela época. Há uns 7 anos atrás, em visita ao pai, nossa madrasta Magali serviu-nos um sorvete muuuuuito bom e lembrei a história do Seu Léo. Pois não é que aquele sorvete que ela nos servia era dos descendentes dos antigos donos e que o Seu Léo nunca se chamou Seu Léo? Deu-me um nó cego na mente, enquanto me ocorria que o pai nunca o chamou de Seu Léo na minha frente. Na verdade, enquanto nos reunia para o passeio, ele proclamava para a ruidosa família: "Hoje vamos passear ao léu!"...

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