Não sinto mais o calor! O calor de tua mão enorme a me conduzir pelas ruas de Cachoeira da minha infância. Minha mão cresceu, cresceu quase como a tua e, de inveja, passou a ter as mesmas manchas e rugas, para que melhor encaixasse outros seres pela vida, como numa procissão atemporal rumo ao infinito.
Tuas mãos, hoje, já viraram estrelas que povoam meu firmamento interior. Já esvaiu-se o calor, aquele calor que se irradia de células vivas e pulsantes. Mas ah, o calor no peito, quando nos vejo em memórias coloridas, o calor no peito tem um tão grandioso alcance, que me aquecem, de novo, as mãos geladas pelo frio do inverno.
Hoje, outras mãos se encaixam nas minhas. Outras histórias são contadas a cada calor. Mas aquelas experiências milagrosas de reconhecimento da vida são a estrutura de minha afetividade tão facilmente repartida.
Hoje, preparando um texto para o Dia dos Pais, veio-me à memória uma infinidade de lembranças comoventes e engraçadas, que gostaria de registrar. Mas ao começar a contá-las, invadiu-me a certeza de que foram tuas mãos, a me conduzir pelas ruas de Cachoeira, que moldaram a minha história.
10.08.2013 (véspera do Dia dos Pais)
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