domingo, 4 de agosto de 2013

Nosso "Roubando", hoje, de novo diversifica, trazendo a arte de Liana Di Marco, na coleção Incas, Maias e Astecas. De Val, um poema belíssimo, na luta entre os dois pólos que compõem nossa existência: o da voz e do silêncio, o da energia e da contemplação. E o nosso Motta e as peraltices com sua avó Cantídia. Delícias puras para o nosso domingo...

De Liana Di Marco



De Val Saab

o canto silencioso de um pássaro que se só pode ouvir
se chegar bem perto.
é preciso esta certa magia para entender alguns passos da
vida.
desculpa se ainda sou tão crua para esta caminhada,
mas o coração é descompassado e não quer saber de não poder
ou não ter ou não ver ou não poder!
ele quer!
desbravado em seu caminho quer ir para todos os lados sem
parar, sem piedade e sem dó.
é preciso controlar este cavalo indomado para sentar e escutar o canto
deste pássaro misterioso. escutar esta canção de amor
tão baixa, tão longíqua que quase já não posso me lembrar,
mas sei que existe.
e sei que vive em mim.

De Paulo Motta

O Dia dos Avós foi meio apagadinho, né? Meus avós já desembarcaram há tempos, mas a lembrança que ficou, principalmente de minha avó materna, é de uma ternura de vó, a Cantídia era uma avó pós-graduada em avolices, como diria Plinio Nunes, na Sagrada Universidade das Guloseimas e Caldos Quentes Ao Anoitecer. A cândida Cantídia adorava sair comigo, passear com o carro emprestado da Norma, e fazíamos uma alegre romaria pelas casas de suas antigas amigas, algumas em viúva solidão, e relembravam saraus com orquestras argentinas e furtivos flertes com guapos rapazes de polainas e palhetas, que lhes prometiam altares ornamentados de amor, carinho e filhos. Um dia estávamos na casa de Dona Eulália, que resolveu passar uma receita de um doce de maracujá ou algo assim. A incumbência de anotar a fórmula do quitute ficou comigo, pois nenhuma conseguia enxergar pra anotar. Lá vai: meia dúzia de ovos batidos, canela em pó batida em leite fresco; aí começou a aflorar o meu lado mau e a receita final ficou mais ou menos assim: oito parafusos de meia polegada em óleo 40, duas longarinas sextavadas de 60cm, trinta rebites de uma polegada e por aí foi. Voltei pra Santa Maria, onde estudava e, no próximo feriado, lá estava eu em São Borja, visitando minha avó que me recebeu indignada: "Porque faz isso com a tua avó, Paulinho?", eu nem lembrava da receita adulterada. "Fui fazer a receita da Dona Eulália e parecia receita pra consertar trator, meu filho!". Aí peguei o carro e voltamos à Dona Eulália para, agora sim, copiar a receita corretamente. Por via das dúvidas a Cantídia levou o óculos. Ósculos e amplexos a todos vocês!

Nenhum comentário:

Postar um comentário